O homem perfeitamente infeliz é o que se julga mais feliz?
“O homem perfeitamente infeliz tem saúde de ferro; check-up e estação de águas todos os anos; seus males físicos são apenas dois: dor de cabeça (não toma comprimido porque ataca o coração) e azia (não toma bicabornato porque vicia o organismo). O pai e o avô do homem infeliz morreram quase aos 90 anos _e ele o diz frequentemente. Banho frio por princípio, mesmo no inverno, e meia hora de ginástica diária. O homem perfeitamente infeliz (…) não empresta dinheiro; não deve nada a ninguém; toma notas minuciosas de todas as suas despesas; nunca pagou nada para os outros; não avaliza nota promissória nem para o próprio filho; tem manifesto orgulho disso tudo. (…) A força de vontade do homem perfeitamente infeliz é tremenda: deixou de fumar há 11 anos, três meses, cinco dias. Se não deixou, poderá deixar a qualquer momento. (…) Considera-se dono de excelente bom humor; em família, porta-se com severidade, falta de graça e convencionalismo; cita provérbios edificantes e ditos históricos; sua glória é poder afirmar, diante de alguém em desgraça: ‘Bem que eu te avisei!’.”
Trecho da crônica A arte de ser infeliz, de Paulo Mendes Campos
Publicado
terça-feira, 18 de agosto de 2009 às 6:05 pm e categorizado como Blog.
Você pode deixar um comentário, ou fazer um trackback a partir do seu site.
O homem perfeitamente infeliz é o que se julga mais feliz?
“O homem perfeitamente infeliz tem saúde de ferro; check-up e estação de águas todos os anos; seus males físicos são apenas dois: dor de cabeça (não toma comprimido porque ataca o coração) e azia (não toma bicabornato porque vicia o organismo). O pai e o avô do homem infeliz morreram quase aos 90 anos _e ele o diz frequentemente. Banho frio por princípio, mesmo no inverno, e meia hora de ginástica diária. O homem perfeitamente infeliz (…) não empresta dinheiro; não deve nada a ninguém; toma notas minuciosas de todas as suas despesas; nunca pagou nada para os outros; não avaliza nota promissória nem para o próprio filho; tem manifesto orgulho disso tudo. (…) A força de vontade do homem perfeitamente infeliz é tremenda: deixou de fumar há 11 anos, três meses, cinco dias. Se não deixou, poderá deixar a qualquer momento. (…) Considera-se dono de excelente bom humor; em família, porta-se com severidade, falta de graça e convencionalismo; cita provérbios edificantes e ditos históricos; sua glória é poder afirmar, diante de alguém em desgraça: ‘Bem que eu te avisei!’.”
Trecho da crônica A arte de ser infeliz, de Paulo Mendes Campos
Publicado terça-feira, 18 de agosto de 2009 às 6:05 pm e categorizado como Blog. Você pode deixar um comentário, ou fazer um trackback a partir do seu site.