“Então Altamitra tornou a falar e perguntou:
– E o que nos dizes do casamento, mestre?
Em resposta, ele disse:
– Amai-vos um ao outro, mas não façais do amor um grilhão. Que as ondas do mar passeiem entre as praias de vossas almas. Enchei o cálice um do outro, mas não bebei do mesmo cálice. Dai de vosso pão um ao outro, mas não comais do mesmo pedaço. Cantai e dançai juntos, e sede alegres, mas deixai cada um de vós estar sozinho, como as cordas do alaúde que, separadas, vibram em harmonia. Dai vossos corações, mas não os confiai um ao outro, pois somente a providência divina pode contê-los. E permanecei juntos, mas não em demasia: pois os pilares do templo erguem-se separados, e o carvalho e o cipreste não crescem à sombra um do outro.”
Trecho de O Profeta, livro do filósofo libanês Kahlil Gibran
“Tantos que fui
ficaram poucos”
Trecho do poema Dispersona, de Fernando Paixão
“Atira para o mar as tuas coisas
abandona os teus pais
muda de nome
esquece a pátria
parte sem bagagem
fica mudo e ensurdece
abre os teus olhos.
Se o teu amor não vale tudo isso
então fica onde estás
gelado e quieto.
O amor só sabe ir de mãos vazias
e só vale se for
o único projeto.”
Poema Atira para o Mar, de Renata Pallottini
“Bellini inventou o gesto de levantar a taça. Carlos Alberto inventou o gesto de beijar a taça. E Dunga? Inventou o gesto de xingar a taça.”
Do jornalista Marcelo Barreto, sobre como os capitães da seleção brasileira comemoraram a conquista das Copas de 1958, 1970 e 1994
“Teu corpo é meio-dia noite adentro.”
Trecho de Poema de Amor – De quê? De Amor – Ah, é?, de Reinaldo Santos Neves
“Como é o Elvis no palco? A gente fica fascinada. Quando o homem acaba de cantar, necessita-se ou de um banho ou de um psicanalista.”
Declaração de uma jovem brasileira à revista O Cruzeiro na década de 1950. Ela tentava descrever o que sentiu ao presenciar um dos primeiros shows de Elvis Presley nos Estados Unidos
“Na Idade Média, costumavam mandar animais a julgamento _gafanhotos que destruíam plantações, carunchos que destruíam as vigas das igrejas, porcos que jantavam bêbados caídos na sarjeta. Às vezes, o animal era levado ao tribunal, às vezes (como acontecia com insetos) era julgado necessariamente in absentia. Havia um julgamento completo, com promotoria, defesa e um juiz de toga, que podia ordenar uma variedade de punições _liberdade condicional, banimento, inclusive excomunhão. Às vezes até mesmo execução judicial: um porco podia se enforcado por um funcionário do tribunal de luvas e capuz. (…) Para nós, isso pode parecer mais uma prova da engenhosa bestialidade humana. Entretanto, há outra maneira de interpretar: como uma elevação do status dos animais. Eles eram parte da criação de Deus e dos desígnios de Deus, não simplesmente colocados na Terra para prazer e uso do Homem. As autoridades medievais levavam os animais a julgamento e avaliavam seriamente seus atos criminosos; nós colocamos animais em campos de concentração, os enchemos de hormônios e os retalhamos de forma que eles nos façam lembrar o mínimo possível de algo que um dia grasnou, ou baliu, ou mugiu. Qual dos mundos é o mais sério? Qual o mais avançado moralmente?”
Trecho do artigo A Consciência da Morte, de Julian Barnes, publicado pela revista Piauí de agosto de 2009
“Estar duro em Nova York era ser dominado por um sentimento de fracasso constante e incômodo, já que você era constantemente confrontado por gente que não apenas tinha mais, como muito, muito mais. Meu orçamento diário era de 12 dólares, e toda extravagância acarretava um sacrifício correspondente. Se eu comprasse um cachorro-quente na rua, tinha que compensar a grana comendo ovos no jantar ou caminhando 50 quarteirões até a biblioteca em vez de pegar o metrô. O jornal era fisgado em latas de lixo, seção por seção, e eu estava sempre à espreita de uma boa receita de sobrecoxa de frango. Do outro lado da cidade, no East Village, o grafite exigia que os ricos fossem comidos, presos ou dizimados por impostos. Embora às vezes parecesse boa ideia, eu torcia para que a revolução não acontecesse durante a minha vida. Eu não queria que os ricos partissem até que eu pudesse, ao menos brevemente, unir-me às suas fileiras.”
Trecho da crônica O Grande Salto Adiante, de David Sedaris
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