Só sei-me indo?
A partir de Madre Deus, canção de Caetano Veloso
Só sei-me indo?
A partir de Madre Deus, canção de Caetano Veloso
“Ultimamente, dei para falar sozinho. Não falo baixinho não, falo sozinho mesmo, principalmente à noite, deitado na cama e tentando entender o que se passa comigo. Falo alto e chego a ficar com medo. Medo de quê? Medo de entender quem fala com quem, quando falo sozinho. Eu falo e ouço ao mesmo tempo. Mas, quem ouve o que eu falo? Por exemplo, se eu disser no escuro do meu quarto: ‘Onde eu errei naquele amor?’. Tenho medo de que alguém me responda na sala ao lado, de dentro do banheiro vazio, onde pinga o chuveiro e a privada gorgoleja. Uma coisa que me intriga é a forma de falar sozinho; devo falar com todos os ‘ss’ e ‘rs’, ou posso falar desleixadamente, pois afinal de contas eu sei o que estou falando? Aliás, nem preciso falar alto. Basta pensar entre resmungos, gemidos e risos abafados; mas, aí me assalta outro medo: há dentro de mim uma terceira pessoa ouvindo o diálogo de mim comigo mesmo? Mas não resisto aos clamores da norma culta e tento falar com alguma qualidade literária para mim mesmo. Assim, aumenta minha angústia. Uma pessoa fala – que sou eu –, outra pessoa ouve – que sou eu –, e uma terceira pessoa julga a qualidade do meu discurso, que também sou eu. Estarei maluco?”
Trecho do artigo O homem-bomba matou o ‘eu’, de Arnaldo Jabor
“Até pouco tempo, a sociedade era hierarquizada, de forma que havia sempre um único lugar de destaque. Ele podia ser ocupado por Deus, ou pelo papa, ou pelo pai, ou pelo chefe. Isso foi se desfazendo progressivamente, e o processo se acentuou nos últimos 30 anos. Hoje a organização social não está mais constituída como pirâmide, mas como rede. E na rede não existe mais esse lugar diferente, que era reconhecido espontaneamente como tal e que conferia autoridade. As dificuldades para impor limites se acentuaram. (…) A mudança é visível. Na Europa, por exemplo, quando um professor dá nota baixa a um aluno, é certo que os pais vão aparecer na escola no dia seguinte para reclamar com ele. Há 20, 30 anos, era o aluno que tinha de dar satisfações aos pais diante do professor. É uma completa inversão. Posso citar outro exemplo. Desde sempre, quando se levam os filhos pela primeira vez à escola, eles choram. Hoje em dia, normalmente são os pais que choram. A cena é comum. É como se esses pais tivessem continuado crianças. Isso acontece porque eles não são capazes de se apresentar como a geração acima dos filhos. É uma consequência desse novo arranjo social, em que os papéis estão organizados de forma horizontal.”
Do psicanalista belga Jean-Pierre Lebrun em entrevista para o jornalista Ronaldo Soares
“Kombi branca, me responda, por favor: pra onde levou o meu amor?
Será que o Pão de Açúcar comprou as Casas Bahia por 12 de R$ 9.999.999.999,99?
A partir de um comentário de Adriano Matos, no Twitter
Trecho da ópera La Traviata, de Giuseppe Verdi, com a soprano russa Anna Netrebko e o tenor mexicano Rolando Villazón. A encenação ocorreu no Festival de Salzburgo (Áustria) em 2005
Dica de João Gabriel de Lima
São Pedro ouviu: 12, 67, 28, 45, 89. “O que está acontecendo? Um bingo?”, perguntou para o anjo Gabriel. E o anjo: “Não, é o Lombardi dando o resultado da Telesena”.
A partir do artigo Assalto!Meias para baixo!, de José Simão
Desespero eu aguento. O que me apavora mesmo é a esperança.
A partir de uma reflexão de Millôr Fernandes
Webmaster: Igor Queiroz