“O professor Paul Singer, na década de 1980, fez um trabalho analisando os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), na qual detectou a existência de uma camada que chamou de subproletariado: os trabalhadores que não conseguem atingir no mercado uma remuneração que lhes dê condições mínimas de participação na luta de classes. E eles eram quase metade da força de trabalho do país. Dos anos 80 para cá, as condições de vida dessa camada permaneceram intactas. Houve um momento de piora até meados dos anos 90, com a implementação de políticas neoliberais no Brasil. Depois, uma certa melhora, após o Plano Real. No cômputo final, ficou como estava _até o governo Lula. (…) Às vésperas da eleição de 1989, Lula ganhava em todas as faixas de renda, menos a mais baixa, justamente a do subproletariado. Isso sinalizava um fenômeno sociopolítico curioso: a faceta conservadora dos eleitores de baixíssima renda. Podia-se identificar nas pesquisas uma coerência entre o voto em Collor e as respostas que esses eleitores davam em relação à questão das greves que afligiam o país naquela ocasião. Quanto menor era a renda, mais apoio ao uso de tropas para acabar com as greves. A razão sociológica para isso é o fato de que eles estão excluídos de qualquer organização, dos mecanismos de luta para os quais faz sentido o conflito político. Para um trabalhador que vive boa parte do tempo desempregado ou na informalidade, a desordem parece ser sempre prejudicial. Depois da eleição de 89, Lula concedeu uma entrevista em que identifica claramente as razões da derrota: ‘A verdade nua e crua é que quem nos derrotou, além dos meios de comunicação, foram os setores menos esclarecidos e mais desfavorecidos da sociedade. Nós temos amplos setores da classe média com a gente _uma parcela muito grande do funcionalismo público, dos intelectuais, dos estudantes, do pessoal organizado em sindicatos, do chamado setor médio da classe trabalhadora’. Depois de quase 20 anos, houve uma virada, o que chamo de realinhamento eleitoral de 2006: o subproletariado aderiu em bloco a Lula.”
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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010 às 5:42 pm e categorizado como Blog.
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Quem sustenta Lula são os descamisados de Collor?
“O professor Paul Singer, na década de 1980, fez um trabalho analisando os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), na qual detectou a existência de uma camada que chamou de subproletariado: os trabalhadores que não conseguem atingir no mercado uma remuneração que lhes dê condições mínimas de participação na luta de classes. E eles eram quase metade da força de trabalho do país. Dos anos 80 para cá, as condições de vida dessa camada permaneceram intactas. Houve um momento de piora até meados dos anos 90, com a implementação de políticas neoliberais no Brasil. Depois, uma certa melhora, após o Plano Real. No cômputo final, ficou como estava _até o governo Lula. (…)
Às vésperas da eleição de 1989, Lula ganhava em todas as faixas de renda, menos a mais baixa, justamente a do subproletariado. Isso sinalizava um fenômeno sociopolítico curioso: a faceta conservadora dos eleitores de baixíssima renda. Podia-se identificar nas pesquisas uma coerência entre o voto em Collor e as respostas que esses eleitores davam em relação à questão das greves que afligiam o país naquela ocasião. Quanto menor era a renda, mais apoio ao uso de tropas para acabar com as greves. A razão sociológica para isso é o fato de que eles estão excluídos de qualquer organização, dos mecanismos de luta para os quais faz sentido o conflito político. Para um trabalhador que vive boa parte do tempo desempregado ou na informalidade, a desordem parece ser sempre prejudicial.
Depois da eleição de 89, Lula concedeu uma entrevista em que identifica claramente as razões da derrota: ‘A verdade nua e crua é que quem nos derrotou, além dos meios de comunicação, foram os setores menos esclarecidos e mais desfavorecidos da sociedade. Nós temos amplos setores da classe média com a gente _uma parcela muito grande do funcionalismo público, dos intelectuais, dos estudantes, do pessoal organizado em sindicatos, do chamado setor médio da classe trabalhadora’. Depois de quase 20 anos, houve uma virada, o que chamo de realinhamento eleitoral de 2006: o subproletariado aderiu em bloco a Lula.”
Do cientista político André Singer na reportagem Os descamisados de Lula
Publicado sexta-feira, 29 de janeiro de 2010 às 5:42 pm e categorizado como Blog. Você pode deixar um comentário, ou fazer um trackback a partir do seu site.