A dor trágica

“No senso comum, dizemos que as coisas acontecem tragicamente quando elas são catastróficas. Não há nisso erro, apenas redução. (…) Nossa prática discursiva atual, cotidiana (…) designa o trágico como esse lugar do pior, do mais terrível que poderia ocorrer a alguém. (…) No entanto, a escalada histórica da ideia de trágico, a partir de inúmeras interpretações que sofreu e continua a sofrer, já diz algo dela mesma. Na maioria das vezes, o trágico foi pensado como uma espécie de essência, de conteúdo profundo e verdadeiro que reveste a condição humana, em qualquer tempo da história, conteúdo que sinaliza um conhecimento adquirido através da dor. (…)
O que exatamente dói? Em uma resposta sucinta, diríamos que é a nova situação do homem. Na tragédia grega, ‘o heroi deixa de se apresentar como modelo, como era na epopeia e na poesia lírica; ele tornou-se problema’. Aproximando um pouco mais o nosso foco, não se trata de uma situação em que o homem tem problemas a resolver _ isso seria evidente e comum _ mas de uma situação em que ele é o problema, e não há como deixar de sê-lo.”

Trecho de A Travessia do Trágico em Análise, livro do psicanalista Mauro Pergaminik Meiches

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