Vejo uma voz?
“O homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não criou a si mesmo e como, no entanto, é livre, uma vez que foi lançado no mundo, é responsável por tudo que faz.”
De Jean-Paul Sartre
“Levo comigo um maço vazio e amassado de Republicana e uma revista velha que ficou por aqui. Levo comigo as duas últimas passagens de trem. Levo comigo um guardanapo de papel com minha cara que você desenhou, da minha boca sai um balãozinho com palavras, as palavras dizem coisas engraçadas. Também levo comigo uma folha de acácia recolhida na rua, uma outra noite, quando caminhávamos separados pela multidão. E outra folha, petrificada, branca, com um furinho como uma janela, e a janela estava fechada pela água e eu soprei e vi você e esse foi o dia em que a sorte começou.
Levo comigo o gosto do vinho na boca. (Por todas as coisas boas, dizíamos, todas as coisas cada vez melhores que nos vão acontecer.)
Não levo nem uma única gota de veneno. Levo os beijos de quando você partia (eu nunca estava dormindo, nunca). E um assombro por tudo isso que nenhuma carta, nenhuma explicação podem dizer a ninguém o que foi.”
Mulher que Diz Tchau, crônica de Eduardo Galeano
“Viu João três vezes. João não a viu. No quarto encontro, achou jeito de lhe falar a sós.
_ Você é um homem diferente _ disse ela, debruçando-se sobre a máquina de escrever.
João, julgando ver-se, viu-a pela primeira vez.”
Trecho de Todos os Homens São Iguais, conto de Otto Lara Resende
“O morcego, pendurado em um galho pelos pés, viu que um guerreiro kayapó se inclinava sobre o manancial. Quis ser seu amigo. Deixou-se cair sobre o guerreiro e o abraçou. Como não conhecia o idioma dos kayapó, falou ao guerreiro com as mãos. As carícias do morcego arrancaram do homem a primeira gargalhada. Quanto mais ria, mais fraco se sentia. Tanto riu que, no fim, perdeu as suas forças e caiu desmaiado. Quando se soube na aldeia, houve fúria. Os guerreiros queimaram um montão de folhas secas na gruta dos morcegos e fecharam a entrada. Depois, discutiram. Os guerreiros resolveram que o riso fosse usado semente pelas mulheres e crianças.”
O Riso, crônica de Eduardo Galeano
“O tempo não tem feição
não tem cheiro e não tem cor
não tem som não tem sabor
voa sem ser avião
rouba mas não é ladrão
carrega tudo o que cria.
Tempo é vento que assovia
que passa e faz pirueta
e o vivente é borboleta
levada na ventania”
Trecho de Tempo II, canção de Siba
“Quatro bailarinas
depressinha
no vagão do metrô
gesticulam ansiosas e contentes
nos olhos de quem as espia”
Trecho do poema As Bailarinas, de Heitor Ferraz
“Os motoboys vão poder circular entre as faixas durante a corrida de rua que a Fórmula Indy realizará em São Paulo?”
Pergunta de Silvia Mekaru para a seção Barbara Responde, da Revista da Folha
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