“Hoje, para várias mulheres, tornar-se objeto não é redução, mas aumento, de poder. É o que leva algumas ao Big Brother Brasil. Nos anos 90, a revista Playboy colhia suas capas nas novelas da Globo. Agora, seu maior estoque é o BBB. Há décadas, a mulher que posava para calendários de borracharia saía mal na reputação. Mas, atualmente, na mídia, é ela, como objeto de desejo, que controla o sujeito desejante. O jogo ficou mais complexo. O sujeito não manda, necessariamente, no objeto. Há mulheres que extraem poder de uma condição de objeto habilmente constituída. Madonna explicitou isso com seus clipes, com seu livro Sex. O problema é que essa não é uma verdade universal nem majoritária. A mulher atacada sexualmente na rua não controla nada, não tem poder, é vítima de uma violência inadmissível. Mas um número menor de mulheres _que consegue ser protagonista do que [o filósofo] Walter Benjamin chamava a reprodução mecânica e que hoje chamaríamos a imagem na mídia_ ganha dinheiro, fama, poder com isso. O problema é que há mais estupros do que capas de Playboy, de modo que o poder e a riqueza de algumas não apagam o abuso sobre muitas.”
Trecho do artigo A devassa da devassa, de Renato Janine Ribeiro