“Vi a Copa do Mundo começar e, com ela, um tremendo exibicionismo da TV: não sei quantas câmeras, não sei quantos ângulos. Para quê? Aparentemente, para melhor não ver. No primeiro ou segundo dia, joga a Argentina, faz gol e tal, ganha o jogo. Mais tarde, no canal SporTV, uma moça levanta a lebre: ‘Sabia que o gol da Argentina foi irregular?’. Não. Ninguém sabia. Ela foi, aparentemente, a primeira a reclamar. Toca a passar o tape de mil ângulos. Um deles repete-se indefinidamente. Lá uma câmera lentíssima mostra um atacante argentino fazendo barreira para que um defensor da Nigéria não tome posição para escorar o centro. Aos poucos, os comentaristas vão sendo convencidos de que viram um bloqueio digno de futebol americano. Mais ou menos unânimes, consentem com a garota: o gol foi irregular. O rapaz ao lado da mocinha já adianta que, talvez, o juiz não tivesse feito a diagonal corretamente, seja isso o que for. Mas, azar do canal, eis que algum espírito de porco bota no ar o teipe da jogada em velocidade normal. Vemos então que aquele bloqueio interminável não durou mais que um átimo. O tempo de a bola centrada do escanteio se aproximar da área. Revisto por aí, o bloqueio de futebol americano não existira: apenas uma disputa por espaço dessas que acontecem às dúzias todos os jogos. Mas o ‘erro de arbitragem’ estava decretado.”
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domingo, 27 de junho de 2010 às 12:53 pm e categorizado como Blog.
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Cegos de tanto enxergar
“Vi a Copa do Mundo começar e, com ela, um tremendo exibicionismo da TV: não sei quantas câmeras, não sei quantos ângulos. Para quê? Aparentemente, para melhor não ver. No primeiro ou segundo dia, joga a Argentina, faz gol e tal, ganha o jogo. Mais tarde, no canal SporTV, uma moça levanta a lebre: ‘Sabia que o gol da Argentina foi irregular?’. Não. Ninguém sabia. Ela foi, aparentemente, a primeira a reclamar. Toca a passar o tape de mil ângulos. Um deles repete-se indefinidamente. Lá uma câmera lentíssima mostra um atacante argentino fazendo barreira para que um defensor da Nigéria não tome posição para escorar o centro. Aos poucos, os comentaristas vão sendo convencidos de que viram um bloqueio digno de futebol americano. Mais ou menos unânimes, consentem com a garota: o gol foi irregular. O rapaz ao lado da mocinha já adianta que, talvez, o juiz não tivesse feito a diagonal corretamente, seja isso o que for. Mas, azar do canal, eis que algum espírito de porco bota no ar o teipe da jogada em velocidade normal. Vemos então que aquele bloqueio interminável não durou mais que um átimo. O tempo de a bola centrada do escanteio se aproximar da área. Revisto por aí, o bloqueio de futebol americano não existira: apenas uma disputa por espaço dessas que acontecem às dúzias todos os jogos. Mas o ‘erro de arbitragem’ estava decretado.”
Do blog de Inácio Araujo
Publicado domingo, 27 de junho de 2010 às 12:53 pm e categorizado como Blog. Você pode deixar um comentário, ou fazer um trackback a partir do seu site.