“Os poemas que não tenho escrito
porque
trabalhando num banco me interrompiam a toda hora
ou tinha que ir à venda e à horta
— quando o poema batia à porta,
os poemas que não tenho escrito
por temer
descer mais fundo no escuro de minhas grotas
e preferir os jogos florais
de uma verdade que brota inócua,
os poemas que não tenho escrito
porque
meu dia está repleto de alô como vai volte sempre obrigado
e eu tenho que explicar na escola o verso alheio
quando era a mim próprio
que eu me devia explicado,
os poemas que não tenho escrito
porque gritam
ou cochicham ao meu lado
ligam máquinas tocam discos e ambulâncias
passam carros de bombeiro e aniversários de criança
e até mesmo a natureza solerte
se infiltra entre o papel e o lápis
inutilizando com sua presença viva
minha escrita natimorta,
os poemas que não tenho escrito
porque
na hora do sexo jogo tudo para o alto
e quando volto ao papel encontro telefonemas e prantos
a exigência de afetos, planos e reencontros
me deixando lasso o pênis e um remorso brando no lápis.”
Trecho de Os Poemas que Não Tenho Escrito, de Affonso Romano de Sant’Anna
Publicado
quinta-feira, 29 de julho de 2010 às 3:50 pm e categorizado como Blog.
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Meu maior pecado é retardar a urgência da poesia?
“Os poemas que não tenho escrito
porque
trabalhando num banco me interrompiam a toda hora
ou tinha que ir à venda e à horta
— quando o poema batia à porta,
os poemas que não tenho escrito
por temer
descer mais fundo no escuro de minhas grotas
e preferir os jogos florais
de uma verdade que brota inócua,
os poemas que não tenho escrito
porque
meu dia está repleto de alô como vai volte sempre obrigado
e eu tenho que explicar na escola o verso alheio
quando era a mim próprio
que eu me devia explicado,
os poemas que não tenho escrito
porque gritam
ou cochicham ao meu lado
ligam máquinas tocam discos e ambulâncias
passam carros de bombeiro e aniversários de criança
e até mesmo a natureza solerte
se infiltra entre o papel e o lápis
inutilizando com sua presença viva
minha escrita natimorta,
os poemas que não tenho escrito
porque
na hora do sexo jogo tudo para o alto
e quando volto ao papel encontro telefonemas e prantos
a exigência de afetos, planos e reencontros
me deixando lasso o pênis e um remorso brando no lápis.”
Trecho de Os Poemas que Não Tenho Escrito, de Affonso Romano de Sant’Anna
Publicado quinta-feira, 29 de julho de 2010 às 3:50 pm e categorizado como Blog. Você pode deixar um comentário, ou fazer um trackback a partir do seu site.