Há metafísica numa lata de fermento em pó Royal?

“Eu me lembro de que, quando era pequeno, o fermento em pó Royal tinha como rótulo uma lata de fermento em pó Royal. E essa lata de fermento em pó Royal tinha como rótulo uma lata de fermento em pó Royal. E essa lata de fermento em pó Royal que era o rótulo do rótulo da lata de fermento em pó Royal tinha como rótulo uma lata de fermento em pó Royal e assim sucessivamente até o infinitamente pequeno. Se a gente tivesse um enorme microscópio capaz de ver a menor partícula da matéria, lá estaria ainda uma mínima, mas obstinada, lata de fermento em pó Royal. Como o infinitamente pequeno só pode seguir em direção ao infinitamente grande, eu, acordado à noite, imaginava que talvez nossa galáxia estivesse contida em uma enorme lata de fermento em pó Royal, que por sua vez estaria envolvida por uma imensa lata de fermento em pó Royal e esta, por uma monumental lata de fermento em pó Royal. Deus, então, seria uma descomunal lata de fermento em pó Royal.”

 Fala do ator Paulo José na peça Um Navio no Espaço ou Ana Cristina Cesar, escrita por Maria Helena Kühner

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