Ele ainda mora no edifício Dakota

“‘Como você se imaginava aos 70, John?’, foi a primeira pergunta que pensei em fazer. Mas, antes mesmo de falar qualquer coisa, eu juro, foi ele quem puxou o assunto. Quase fazendo a pergunta e dando a resposta em seguida. ‘Cara, não sei por que estão fazendo tanto auê com esses meus 70 anos’, ele disse, sentando no sofá branco, de calças largas, ainda magro, com a barba por fazer, os cabelos curtos, óculos. ‘Porque você é John Lennon’, eu disse, rindo. ‘Sim, mas fazer 70 é só estar vivo, cara.’ Sorrimos.
Yoko apareceu no corredor, deu oi. E eu, intrigado com a pergunta inevitável, resolvi fazê-la logo no começo. Em praticamente todas as entrevistas que dá, desde janeiro de 1981, quando saiu do hospital, John Lennon tem que responder sobre o que sente em relação a Mark Chapman. ‘Ah, eu sabia que você ia me perguntar isso.’ ‘Desculpe, é preciso’, eu disse timidamente. ‘Ah, por falar em desculpas, ele já me pediu, não é mesmo?’, disse John, com uma ironia única, lapidada há sete décadas. ‘Cara, honestamente, eu parei de pensar nesse sujeito. Nem sei se ele ainda está preso. Preso estou eu, que fico mais em casa. Acho que nunca mais vou encontrar com ele, sabia? Hoje em dia não penso mais, não tenho mais nem as cicatrizes. Passou muito tempo. O que penso atualmente é que Julian e Sean nunca me deram um neto’, e riu.”

Trecho da crônica John Lennon, 70 Anos, de Fê Castello Branco Oliveira

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