“Mansão e imóvel de luxo não são termos adequados para descrever as casas dos traficantes no Complexo do Alemão. O que define uma mansão? É o espaço? A localização? O valor de mercado? Sob nenhum desses critérios aquelas casas podem ser consideradas ‘de luxo’. Não entendo a surpresa das pessoas com as banheiras de hidromassagem, as piscinas, as TVs, o quadro do artista pop juvenil [Justin Bieber] na parede encontrados ali. Ora, são os valores da nossa sociedade, do capitalismo, que os tornam objetos de desejo. Os traficantes são socializados nessa cultura do consumo, como todos nós. A opção pelo tráfico também se dá pelo status (ser temido, reconhecido e assim por diante), mas se dá primordialmente pela possibilidade de ter bens de consumo. Então por que a surpresa? As pessoas, em particular a classe média da zona sul e da Barra, ficam incomodadas com a pouca nitidez da diferença entre ‘nós’ e ‘eles’, com o compartilhamento do imaginário de consumo. Entrar no mundo opaco da favela e encontrar um espelho das suas aspirações parece desestabilizar a certeza tão consolidada e cultivada de que os traficantes em particular e os moradores de favelas em geral são ‘os outros’.”
Da antropóloga Mariana Cavalcanti em entrevista para o repórter Christian Carvalho Cruz
O título do post se inspira na canção Sampa, de Caetano Veloso