“Você concordaria com a afirmação hoje frequente de que vivemos num mundo totalmente diverso daquele habitado pelos fundadores da sociologia? E que, portanto, precisaríamos jogar Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber na lata do lixo e começar do começo?
Já vivi muito tempo, talvez tempo demais, para levar tais afirmações a sério. Aprendi que nada é realmente novo e sem precedentes, e que nada desaparece sem deixar vestígios. (…) A realidade das ‘datas vencidas’ pertence apenas aos produtos nas prateleiras dos supermercados. A única possibilidade de Marx, Weber ou Durkheim serem ultrapassados é parar de lê-los. Tendemos a passar de um hype para outro, e os livros raramente sobrevivem à temporada de alguns dias nas manchetes de jornal. Essa ‘obsolescência instantânea’ das mercadorias em promoção, contudo, é uma pequena ondulação na superfície das águas profundas da cultura. Avaliar as correntes profundas a partir de ondas superficiais pode ser um erro que nenhum navegador sério se arriscaria a cometer. O sociólogo russo Pitirim Sorokin certa vez cunhou a expressão ‘complexo de Colombo’, significando ‘ficar entediado com os problemas antes de eles serem resolvidos’, hábito que o psicólogo norte-americano Gordon Allport denunciou como a mais odiosa das moléstias acadêmicas. Sorokin insinuou que a abreviatura mais comumente usada para o ‘complexo de Colombo’ é ignorância.”
Do sociólogo polonês Zygmunt Bauman em conversa com Keith Tester, professor de sociologia na Universidade de Hull (Inglaterra)