“- Sabe, Persio, o que eu queria? Aproveitar a passagem de volta e conhecer a Disney.
Quase caí de costas ao ouvir o pedido de meu pai. Estávamos em Boston, anos depois da Lei da Anistia, à procura de um tratamento alternativo qualquer que lhe concedesse uma esperança de cura. Tinha sido tudo em vão, e a leucemia progredia exatamente de acordo com os livros-texto de medicina que eu comprara em Nova York na esperança de entender melhor a doença que o afligia. A peregrinação chegara ao fim, e com ela qualquer esperança efetiva de reversão do quadro. E ele queria conhecer a Disney!
Pois fomos. E naquele mundo de fantasia, ele se divertindo com os Piratas do Caribe e a Space Mountain, o mundo ficou de ponta-cabeça. Era eu quem falava inglês, quem comprava os bilhetes e organizava a viagem; e era ele quem se maravilhava como uma criança, incrédulo naquele mundo perfeito. Chegou a entrar várias vezes na fila do mesmo brinquedo só para acompanhar um novo amiguinho de 7 anos. Do lado de fora, vi os dois se divertindo a valer na xícara que roda, se esmerando em imprimir máxima velocidade aos rodopios e soltando uma exclamação de lástima quando soava o gongo.”
Trecho de Rakudianai, ensaio autobiográfico do economista Persio Arida