Quanto vale um poema? (2)

“Maria Bethânia estreou seu espetáculo de poesia sem apoio de nenhum benefício fiscal. A bilheteria do teatro do Fashion Mall, no Rio de Janeiro, cobriu os custos e o público fiel foi suficiente para lotar a curta temporada sem maiores gastos com publicidade. A cantora produziu uma obra de delicadeza tão notável que incitou Hermano Vianna a levá-la para a internet, de graça e por toda a vida. Todas as empresas contatadas desejaram se aliar ao projeto, mas insistiram nas leis de incentivo.
Bethânia cobrou pela elaboração, feitura e doação ‘ad eternum’ de seus direitos de imagem para veiculação gratuita, R$ 1.643 por cada um dos 365 vídeos. O Minc, que aprovou outros sites por valores até superiores, entendeu que era justo. A manchete na primeira página afirmando que Bethânia receberia R$ 600 mil para fazer um blog, apesar de verdadeira, sugere falcatrua e má-fé. O site O Brasil Precisa de Poesia se transformou no bode expiatório da encruzilhada da política cultural brasileira. Aberrações graves poderiam ter servido de exemplo, mas queimar uma feiticeira da dimensão de Bethânia tem um valor insubstituível do ponto de vista do escândalo.
O Brasil subsidia infindáveis setores de sua produção, o papel que imprime este jornal inclusive. Do total desse investimento, apenas um por cento é destinado à cultura.”

Trecho do artigo Os Demônios, de Fernanda Torres, que está na Folha de S.Paulo de hoje

Nenhum Comentário para “Quanto vale um poema? (2)”

  1. sandra rocha disse:

    Também gosto da Bethânia, mas desde quando admiração é um bom critério pra distribuir recursos públicos? Outros artistas, tão bons quanto ela, mas fora do eixo consagrado, teriam o mesmo tratamento? E por que as empresas insistiram nas leis de incentivo!?

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