Pra que discutir com madame?

–  Ela me demitiu, a infeliz!
– Não acredito! Quando?
– Hoje, mano. Agorinha mesmo… Eu não merecia. Onde aquela vagabunda vai encontrar outra com as minhas qualidades? Nunca faltei, me comportava direito na frente da clientela, sei um pouco de inglês…
– Que mulher mais otária!
– Filha da puta! Cancelou rapidinho a minha senha do computador, tirou meu crachá e ainda mandou o segurança me acompanhar até a saída. “Qualé, comédia?”, reclamei para o cara. “Vai me acompanhar por quê? Não preciso de babá!”
– Você devia voltar lá e armar uma confusão. Fazer como o maluco de Realengo…
– Credo!
– Já pensou? Entrar na firma de repente, arrepiando? Em quem você atiraria primeiro? Na mulher?
– Se liga, moleque! Não gosto de morte, não. Nem de bate-boca. O negócio, agora, é deixar quieto. Esquecer. De que adiantaria  brigar com a perua?  Daquela mulher, só queria tomar o carro. Um carrão bonito… Diz que o marido dela ganha 15 mil. Escutou bem? 15 mil! Imagine se algum dia vou arranjar um marido que ganhe 15 mil… 

Conversa entreouvida num trem urbano que une a zona nobre de São Paulo à periferia

Nenhum Comentário para “Pra que discutir com madame?”

  1. Cris disse:

    Isso dá medo. Para se ver como as coisas acontecem: via sugestões.
    Como pode alguém ‘aconselhar’ o outro a cometer um assassinato?
    As dificuldades da vida não deveriam ser resolvidas com facilidades armadas.

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