“– Em 1992, você comemora 40 anos de carreira literária e 70 de idade. Como se sente?
– Não estou comemorando. Aliás, nem sabia disso, até que me apareceu esta pergunta… Como me sinto? Profundamente irrealizado, com um gosto terrível de incompletude e uma tremenda vontade de me reinaugurar. De começar.”
Muitas coisas fascinantes aconteceram comigo. Quase todas eu li.
“Durante os breves dias que passei agora no Brasil, pasmei com a ferocidade da campanha contra um projeto de poesia de Maria Bethânia. O meu pasmo foi subindo de degrau em degrau a cada hora de cada um dos cinco dias e terminou num miradouro de indignação. Parece-me útil dar a ver aos brasileiros o panorama feio que os meus portugueses olhos divisaram _amo demasiado o Brasil para poder ficar fora dele mesmo quando ele me deixa fora de mim. (…) O coro de virgens ofendidas com a verba que o Ministério da Cultura autoriza a captar para o projeto da cantora ( R$ 1,3 milhão) é patético por diversas razões, a primeira das quais é a suposição cândida de que, a não ser investido na divulgação de poesia de língua portuguesa a que Bethânia se propõe, esse dinheiro seria canalizado para escolas, hospitais e o escambau. (…)
A 8 de março de 2010, Bethânia falou-me da sua vontade de levar pelo interior do Brasil e de Portugal um conjunto de espetáculos exclusivamente dedicados à poesia. Que Bethânia ou alguém próximo dela (porque Bethânia nem sequer é praticante da religião das redes virtuais) tenha acrescentado a esse projeto a circulação dos poemas ditos na internet, parece-me uma excelente e eficaz ideia. Sim, opulentos invejosos, já há muita poesia na net _mas não dita e encenada por Bethânia. A voz e o critério dela chegam mais longe, movem mais almas_ é isso que não se lhe perdoa. Caetano já o disse, numa crónica coruscante, no Globo. Mas eu quero repeti-lo, porque não sou irmã dela _amo-a, sim, como comecei a amá-lo a ele, desde a mais tenra juventude e sem os conhecer de parte alguma nem saber onde ficava Santo Amaro da Purificação, de onde ambos vieram, sem patrocínios nem padrinhos, para acrescentar luz e força às nossas vidas. Amo-os porque as suas vozes e os seus dons criativos me fizeram e fazem acreditar que o mundo pode ser um lugar mais belo e mais sábio. O Brasil está a dar certo porque eles _e muitos outros como eles, e uma multidão com eles_ assim o quiseram. E isso só não vê quem não quer _ou não é capaz_ de ver.”
“Maria Bethânia estreou seu espetáculo de poesia sem apoio de nenhum benefício fiscal. A bilheteria do teatro do Fashion Mall, no Rio de Janeiro, cobriu os custos e o público fiel foi suficiente para lotar a curta temporada sem maiores gastos com publicidade. A cantora produziu uma obra de delicadeza tão notável que incitou Hermano Vianna a levá-la para a internet, de graça e por toda a vida. Todas as empresas contatadas desejaram se aliar ao projeto, mas insistiram nas leis de incentivo.
Bethânia cobrou pela elaboração, feitura e doação ‘ad eternum’ de seus direitos de imagem para veiculação gratuita, R$ 1.643 por cada um dos 365 vídeos. O Minc, que aprovou outros sites por valores até superiores, entendeu que era justo. A manchete na primeira página afirmando que Bethânia receberia R$ 600 mil para fazer um blog, apesar de verdadeira, sugere falcatrua e má-fé. O site O Brasil Precisa de Poesia se transformou no bode expiatório da encruzilhada da política cultural brasileira. Aberrações graves poderiam ter servido de exemplo, mas queimar uma feiticeira da dimensão de Bethânia tem um valor insubstituível do ponto de vista do escândalo.
O Brasil subsidia infindáveis setores de sua produção, o papel que imprime este jornal inclusive. Do total desse investimento, apenas um por cento é destinado à cultura.”
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