Como pode haver um fim bem no meio?
“Dá-me coragem, Senhor
que não habita meu peito
mas cuja ausência, tão plena,
quem sabe me daria alento?”
– Você é meu anjo, querida…
– Da guarda?
– Caído
“Os tigres urinam quando pretendem delimitar sua toca. Javalis e camurças fazem o mesmo. Imitamos esses animais? Acredito que sim, é como vejo, como sinto. Quem cospe na sopa ou na salada garante sua propriedade. Ninguém se deita em lençóis usados por outra pessoa; eles passam a ser de quem usou. De maneira inversa, para receberem seus clientes, o hotel e o restaurante limpam a roupa de cama e a mesa. (…) A etologia, a ciência dos comportamentos animais, descreve amplamente ninhos, terreiros, covis, buracos, nichos ecológicos… ou seja, os hábitats, e também a maneira como a sujeira dos machos os definem e protegem.”
“Leio na imprensa portuguesa que Viena se prepara para abrir o primeiro curso superior em Sexualidade Aplicada. O objetivo do curso é ensinar os alunos a serem melhores amantes, o que implica um detalhado programa de estudos teóricos e, sobretudo, práticos. Na teoria, a diretora da International Sex School elenca algumas das disciplinas: posições sexuais, técnicas de acariciamento, características anatômicas. Na prática, os alunos terão à disposição um dormitório onde, para além das atividades habituais, como dormir ou comer, poderão fazer as suas lições de casa, como dormir com, ou comer os, colegas.”
“Não dizem que o sonho da maioria é morrer dormindo? Pois bem: de agora em diante, só autorizo bombardeios noturnos.”
“Em 1960, ficou famoso o jantar que Ruth Cardoso deu a Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir em São Paulo. Afinal, Simone se tornara um ícone das feministas depois de seus livros Memórias de uma Moça Bem-Comportada e O Segundo Sexo, sucesso de vendas no Brasil e carregado debaixo do braço por toda a geração Maria Antonia e Cinemateca, ou por todas aquelas que se diziam jeune fille rangée, um pouco pernosticamente.
‘Nós, mulheres, estávamos excitadíssimas com a presença de Simone, (…) tínhamos certeza de que ela vinha pontificar sobre o feminismo. Assim, lá em casa, preparei a sopa de mandioquinha, um prato muito apreciado por estrangeiros. Toda orgulhosa, trouxe a sopa para a mesa, mas a Simone começou:
– O que é isso?
Fica difícil explicar a mandioquinha, porém tentei. E ela:
– Tem cebola?
– Tem.
– Ele não pode comer. Tem não sei o quê?
– Tem.
– Ele não pode comer.
Uma coisa de mãe e filho, irritante. Uma chata! Onde estava a mulher que defendia os direitos da mulher? Era uma submissa? Não estava entendendo. Sartre, relaxado, foi comendo sem se incomodar, apesar da vigilância. Bem, a sopa não fez sucesso. Veio a sobremesa, goiabada com queijo, e vieram as perguntas, a implicância. Ela comeu por delicadeza, via-se que não gostava. Mal acabou, o Fernando Henrique, maldosamente, colocou nova porção, dizendo: Vi que a senhora gostou, aceite mais um pouco’.”
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