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“No princípio, me divertia. Só que, já há alguns milênios, a história fica se repetindo.”
Ela diz que está apaixonada. Mas quem está apaixonado sabe o que diz?
“Em geral, nossas namoradas creem no Deus dos Evangelhos assim como nós, e isso significa que chegarão virgens ao casamento _apesar de os Evangelhos não mencionarem nenhum procedimento desse tipo. Assim, nosso jeito de fazer sexo é passar horas nos tocando, enquanto conversamos. Nunca gozamos. Quase nunca. Nós, homens, tocamos toda a pele que podemos e, de vez em quando, enfiamos as mãos sob as saias delas, mas nem sempre. Elas, no entanto, tocam logo nosso sexo, pois somos nós que abrimos as calças e, às vezes, as tiramos. Isso acontece em casas em que os pais, irmãos, irmãs estão do outro lado, atrás da porta, e qualquer um pode entrar de uma hora para outra. Portanto, fazemos tudo numa precariedade permeada de perigo. Frequentemente não há nada mais que uma porta entreaberta entre o pecado e o castigo, e isso faz com que o prazer de se tocar e o medo de ser descobertos, assim como o desejo e o remorso, aconteçam simultaneamente, ligados numa única emoção que nós chamamos, com precisão esplêndida, sexo.”
“Já vi tudo, só falta acreditar”
– Nunca comente no Facebook as surras que você dá em mendigos, Sandrinho.
– Por que não, papai?
– O mundo anda muito intolerante.
– Jogue o lixo lá fora, por favor.
– Fora de onde?
– De casa, ué.
– Que casa?
– A nossa.
– Você se refere à Terra?
“Dos 7 aos 11 é um grande pedaço da vida, cheio de tédio e esquecimento. Dizem que lentamente vamos perdendo o dom de falar com os bichos, que os pássaros não visitam mais nossa janela para conversar. Conforme os olhos vão se acostumando a ver, blindam-se contra a fantasia. Flores que eram do tamanho de um pinheiro voltam para os vasos de barro. Até o terror diminui. Gigantas e gigantes do quarto de infância encolhem-se em professoras chatas e pais piedosos.”
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