“Um cão, porque vive,
é agudo.
O que vive
não entorpece.
O que vive fere.
O homem,
porque vive,
choca com o que vive.”
“Um cão, porque vive,
é agudo.
O que vive
não entorpece.
O que vive fere.
O homem,
porque vive,
choca com o que vive.”
Quais as únicas letras do alfabeto que os homens casados conhecem?
O B D C
“Quero você mesmo assim
Diga sempre que me ama
Vá fazer seu programa
E depois volte pra mim”
“Será que ninguém vai tomar uma providência? Imaginem um terremoto ignorado, sei lá, um tsunami despercebido: ‘Terremoto, onde? Não estou vendo…’ Pois é o que está acontecendo na cidade de São Paulo. Ninguém vê o óbvio: a cidade vai parar com 680 carros entrando por dia nas ruas. Ou melhor, vê sim, mas com olhos burocráticos, entreabertos, com tédio de trabalhar: ‘Sim, vamos formar comissões, estamos consultando os técnicos em urbanismo e tal’. É isso ─ estamos diante de uma calamidade pública e ninguém se toca. Em poucos meses, as cidades japonesas arrasadas já foram limpas. E aqui? Aqui, ‘cidade’ é considerada uma coisa inferior, ‘prefeitura’, idem. Num país formado pela abstração lusitana, brotam ideologias e teorias que justificam a inação; ‘prefeitura’ só cuida de ‘coisas menores’, como água, esgotos, chuvas, enchentes, transporte, trânsito, ou seja, as coisas mais fundamentais da vida (…). No entanto, São Paulo é um país. São Paulo é o lugar mais importante do Brasil. ‘Ahhh…, mas vai melhorar’, diz o vulgar desejo brasileiro de protelação e autoengano. Não vai melhorar não. Vai piorar; aliás, o pior já aconteceu… ‘Ah… o Rodoanel vai ficar pronto…’ Quando? Por que não ficou antes? Porque, na época do Lula, não mandavam dinheiro federal para o metrô… Claro que eu reclamo como um burguês; tenho carro, me incomoda levar duas horas para ir ao trabalho. Mas, e a população que sofre agarrada em ganchos de ônibus ou esmagada dentro dos trens? Os milionários compram helicópteros e a classe média muge, reclama com aquele tom de desesperança conformada, tipo: ‘Ah… isso não tem jeito mesmo…’ (…) A verdade é que (…) a cidade está virando um retrato trágico do País; é o inverso da miséria nordestina ou da seca, é a esclerose múltipla da riqueza, é o câncer da pujança econômica.”
“Começou a me contar de quando ele e sua mulher eram jovens. Fazia questão de que eu entendesse que haviam sido felizes. Ninguém queria que se casassem, em suas famílias, mas eles queriam muito e mesmo quando, por um instante, tinham desistido, ele nunca deixara de saber que conseguiriam, e assim foi. Vínhamos, os dois, de famílias horríveis, disse, e o único tempo que não era repulsivo era aquele que passávamos juntos. Disse que havia um montão de moralismos, naquela época, mas sua vontade de fugir era tamanha que tinham começado a fazer amor sempre que podiam, às escondidas de todos. Fui salvo pela enorme beleza dela, uma beleza limpa (…). Depois deve ter percebido que aquele tipo de confissão me deixava sem graça _interrompeu. A vida sexual dos nossos pais é, de fato, uma das poucas coisas das quais não queremos saber nada. Gostamos de pensar que não existe e que nunca existiu. Não saberíamos sinceramente onde encaixá-la, na ideia que fizemos deles. Assim, passou a contar dos primeiros tempos de casados, e de quanto tinham rido, naqueles anos. Já não o escutava direito. Em geral, são histórias sempre iguais, todos os nossos pais foram felizes, quando jovens. Esperava antes ouvir quando tudo aquilo tinha emperrado, quando começara a miséria educada que, ao contrário, conhecíamos. Talvez quisesse saber por que a certa altura tinham adoecido. Mas não falou daquilo.”
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