Não vês que ainda és dona dos estragos meus?
Não vês que ainda és dona dos estragos meus?
Ela visita São Paulo pela primeira vez e está no alto da rua Augusta, pertinho da avenida Paulista. Inquieta, observa a ladeira que, apinhada de gente, se alonga até o coração dos Jardins.
– O que tem lá embaixo?
– Lá embaixo onde?
– Ali bem longe, no lugar em que a ladeira perde o fôlego.
– Lojas, camelôs, ônibus, pessoas apressadas.
– E depois?
– Mais lojas, mais camelôs, mais ônibus, mais pessoas apressadas.
– Nada além disso?
– Nada… Esperava o quê?
– Que houvesse o mar…
“- Tua professora ligou. De castigo, você. Beijando na boca os meninos. Que feio, meu filho. Não é assim que se faz.
– …
– Menino beija menina.
– Você é gozada, cara.
– …
– Pensa que elas deixam?”
“Vivemos em um mundo fluido, raso e fragmentado, que se pulveriza e se desmancha. O mundo das imagens feéricas, do noticiário em ‘tempo real’, das grandes (e ilimitadas) redes virtuais. O mundo da simulação, do duplo e do etéreo. Nesse mundo disperso e desprovido de limites, a literatura parece perder o sentido. Para que serve, então, a literatura hoje? A literatura está morrendo? Será ela devorada pelos blogs, pelo Facebook e por outros artefatos do mundo virtual? Chegando à pergunta que mais nos atormenta: a literatura tem futuro? Podem os jovens ainda acreditar na potência da literatura? Aposto, com ênfase, no futuro da literatura. Mais ainda: aposto em sua força no presente. Em um mundo entre escombros, em que tudo se parte e se dispersa, a literatura, na contramão, oferece coesão e sentido. Em um mundo no qual tudo nos joga para fora, ela nos joga para dentro. Em um mundo extrovertido, dominado pelas imagens, pelos índices e pelas superfícies, ela nos conduz a um precioso exercício de introspecção. Quanto mais o mundo se fragmenta e se liquefaz (para pensar nas ideias de Zymunt Bauman), mais a literatura se oferece como um posto de resistência. Quanto mais o sujeito e seu corpo se veem presos _ como tristes aranhas _ às redes virtuais e às jogadas comerciais, mais a literatura se oferece como um território de liberdade interior e de subjetivação.”
“- O que você espera da eternidade?
– Que a cerveja esteja gelada.”
“Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia.”
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