“Darcy começou a falar, engraçada, pitorescamente. Curioso alguém se interessar em como ele havia vencido o câncer. Despejou tudo de uma vez, quase tudo. Ou: o trânsito ridículo de médicos estrangeiros que lhe escondiam a doença, dizendo tuberculose. Ridículos, principalmente em Paris, onde ele exigia ver e ouvir os resultados de todos os exames. (…) Então revelou, sem modéstia. Não acreditava em suas habilidades literárias a ponto de produzir algo útil ou de exemplaridade sobre o capítulo do câncer, provavelmente o mais cavernoso (uma caverna no peito) de sua vida.
– Mas se o senhor escrevesse como fala…
As pessoas não escrevem como falam. Comportam-se, disciplinam-se, empostam-se. Há imposturas, a naturalidade vai embora, ninguém perde a chance de parecer inteligente, espirituoso, um homem que, de certo, está acima dos outros.”
“- Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse ‘leve-me ao seu líder’, a quem você o levaria?
– Ao Chocottone.”
“O humanismo é uma forma limitada de pensar o grupo dos humanos, que vejo como dependentes de muitos outros seres que não são humanos. Uma definição que isole o humano dos seres que o fabricam – tanto as divindades religiosas quanto as coisas com as quais os humanos vivem, como as árvores, mas também o alumínio para fazer talheres, por exemplo – é uma visão estreita. A perspectiva humanista foi legítima em uma determinada época, se falarmos do humanismo da metade do século 19 até a metade do século 20, antes que os ecologistas tenham chamado nossa atenção para o problema ambiental. Mas hoje não faz mais nenhum sentido falar em humanismo. (…) Os humanos são envolvidos por muitos outros seres, e a ideia de que uma pessoa age autonomamente, com seus próprios objetivos, não funciona nem na economia, nem na religião, nem na psicologia, nem em nenhuma outra situação. Portanto, a pergunta que se coloca é: quais são os outros seres ativos no momento em que alguém age? A antropologia e a sociologia que tento desenvolver se ocupam da pesquisa desses seres. Eu posso colocar a questão de um modo inverso: como, apesar das evidências de todos os numerosos seres que participam de uma ação, continua-se a pensar como se o único ator fosse o humano dotado de uma psicologia, ciente de si mesmo, calculador, autônomo, responsável?”
“Conhece da humana lida
a sorte:
o único fim da vida
é a morte
e não há, depois da morte,
mais nada.
Eis o que torna esta vida
sagrada:
ela é tudo e o resto, nada.”
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