“O que ocorreria se Jesus voltasse à Terra? Não posso falar do Brasil, mas creio ter uma ideia do que ocorreria se Jesus surgisse repentinamente nos Estados Unidos. Haveria o assombro, é claro, e um grande afloramento de emoções, êxtases e lágrimas. Depois, a realidade se imporia. Primeiro, Jesus teria de encontrar um cume de montanha de onde falar aos cristãos e a todas as outras pessoas que desejassem vê-lo e ouvi-lo. Mas que montanha seria? As mais belas estão nos parques nacionais dos Estados Unidos, e elas estariam fora de questão porque as leis regulamentam a quantidade de pessoas que se pode congregar num parque nacional. Vários Estados se ofereceriam então para o uso de montes pitorescos locais. Os Estados começariam a se digladiar. O governo federal se intrometeria. E haveria um debate sobre os limites do poder federal em relação ao estadual.
Nesse ínterim, vários eventos momentosos teriam ocorrido com o objetivo de desviar a atenção das pessoas da ocasião extraordinária do surgimento de Jesus. A estrela de reality shows Kim Kardashian anunciaria que está grávida de trigêmeos, resultado de uma anunciação milagrosa. Donald Trump renomearia seu império de Christ Properties. A Apple lançaria o iPodEternity. Liberais temeriam o potencial de Jesus como ditador. E conservadores, seu potencial como revolucionário. A classe média rogaria para ele diminuir os impostos.
Como o novo ambiente lhe seria totalmente estranho, Jesus teria de contratar alguns assessores. Essas pessoas imediatamente o aconselhariam a se manter a par da transformação vertiginosa dos fatos abrindo uma conta no Twitter. (…) Depois de criá-la, o filho de Deus simplesmente teria de marcar presença no Facebook. Mas que imagem ele deveria usar na sua home page? Uma bonita foto da cabeça? De frente ou de perfil? A representação de um artista (de Leonardo, talvez?) da Santa Ceia? Mas a ideia toda de uma última ceia poderia afastar algumas pessoas por ser demasiado lúgubre. Talvez um belo pôr do sol apenas. E quanto aos seus seguidores? E se ocorresse de Lady Gaga ter mais seguidores? Bem, uma vez resolvido o dilema do Facebook, Jesus teria de se preparar para as inevitáveis visitas a talk shows. No novo canal a cabo de Oprah, ele teria de discutir experiências extracorporais. No programa de Martha Stewart, contaria aos espectadores sobre a sua receita para pães e peixes instantâneos. No programa de Stephen Colbert, deixaria Colbert provocá-lo por ter um ‘complexo de Jesus’. Depois disso, os novos assessores de Cristo dariam um jeito para ele fazer um ‘tour de milagres’. Conseguir patrocinadores não seria problema. Mas seria preciso decidir que milagres produzir. Jesus teria de ter o cuidado de não ofender ninguém. Por exemplo, ressuscitar pessoas. Quem ele ressuscitaria? Ele não poderia mostrar favoritismo ressuscitando uma pessoa branca, mas não uma negra. Para não mencionar outras cores. E se ressuscitasse uma de cada, seria um homem ou uma mulher? Jovem ou velho? Rico ou pobre? Logo ele teria de ressuscitar todo o mundo. Só que aí ele teria de conseguir emprego para todos…”
Trecho do artigo E se Jesus voltasse à Terra?. de Lee Siegel
Publicado
quarta-feira, 26 de setembro de 2012 às 5:17 pm e categorizado como Blog.
Você pode deixar um comentário, ou fazer um trackback a partir do seu site.
Uma outra via-crúcis
“O que ocorreria se Jesus voltasse à Terra? Não posso falar do Brasil, mas creio ter uma ideia do que ocorreria se Jesus surgisse repentinamente nos Estados Unidos. Haveria o assombro, é claro, e um grande afloramento de emoções, êxtases e lágrimas. Depois, a realidade se imporia. Primeiro, Jesus teria de encontrar um cume de montanha de onde falar aos cristãos e a todas as outras pessoas que desejassem vê-lo e ouvi-lo. Mas que montanha seria? As mais belas estão nos parques nacionais dos Estados Unidos, e elas estariam fora de questão porque as leis regulamentam a quantidade de pessoas que se pode congregar num parque nacional. Vários Estados se ofereceriam então para o uso de montes pitorescos locais. Os Estados começariam a se digladiar. O governo federal se intrometeria. E haveria um debate sobre os limites do poder federal em relação ao estadual.
Nesse ínterim, vários eventos momentosos teriam ocorrido com o objetivo de desviar a atenção das pessoas da ocasião extraordinária do surgimento de Jesus. A estrela de reality shows Kim Kardashian anunciaria que está grávida de trigêmeos, resultado de uma anunciação milagrosa. Donald Trump renomearia seu império de Christ Properties. A Apple lançaria o iPodEternity. Liberais temeriam o potencial de Jesus como ditador. E conservadores, seu potencial como revolucionário. A classe média rogaria para ele diminuir os impostos.
Como o novo ambiente lhe seria totalmente estranho, Jesus teria de contratar alguns assessores. Essas pessoas imediatamente o aconselhariam a se manter a par da transformação vertiginosa dos fatos abrindo uma conta no Twitter. (…) Depois de criá-la, o filho de Deus simplesmente teria de marcar presença no Facebook. Mas que imagem ele deveria usar na sua home page? Uma bonita foto da cabeça? De frente ou de perfil? A representação de um artista (de Leonardo, talvez?) da Santa Ceia? Mas a ideia toda de uma última ceia poderia afastar algumas pessoas por ser demasiado lúgubre. Talvez um belo pôr do sol apenas. E quanto aos seus seguidores? E se ocorresse de Lady Gaga ter mais seguidores? Bem, uma vez resolvido o dilema do Facebook, Jesus teria de se preparar para as inevitáveis visitas a talk shows. No novo canal a cabo de Oprah, ele teria de discutir experiências extracorporais. No programa de Martha Stewart, contaria aos espectadores sobre a sua receita para pães e peixes instantâneos. No programa de Stephen Colbert, deixaria Colbert provocá-lo por ter um ‘complexo de Jesus’. Depois disso, os novos assessores de Cristo dariam um jeito para ele fazer um ‘tour de milagres’. Conseguir patrocinadores não seria problema. Mas seria preciso decidir que milagres produzir. Jesus teria de ter o cuidado de não ofender ninguém. Por exemplo, ressuscitar pessoas. Quem ele ressuscitaria? Ele não poderia mostrar favoritismo ressuscitando uma pessoa branca, mas não uma negra. Para não mencionar outras cores. E se ressuscitasse uma de cada, seria um homem ou uma mulher? Jovem ou velho? Rico ou pobre? Logo ele teria de ressuscitar todo o mundo. Só que aí ele teria de conseguir emprego para todos…”
Trecho do artigo E se Jesus voltasse à Terra?. de Lee Siegel
Publicado quarta-feira, 26 de setembro de 2012 às 5:17 pm e categorizado como Blog. Você pode deixar um comentário, ou fazer um trackback a partir do seu site.