“Em São Paulo há um lugar reservado para um populismo tradicional que, de certo modo, a polarização entre PT e PSDB ensombreceu nos últimos anos; este espaço da ignorância já foi ocupado por Ademar, por Jânio, por Maluf (…). O vazio está sempre à espera de um impasse político, para que a ‘massa atrasada’ (um termo do PT) corra a eleger um novo demagogo. Com o crescimento econômico da chamada classe C, o populismo tende a ser mais mágico, mais imediatista, em busca de sucesso e riqueza, um populismo consumista e conservador. Quem ocupa esse espaço vazio é justamente o movimento evangélico em seus galpões lotados de milhares de pagadores de dízimos à espera de milagres e riqueza. E o milagreiro da hora será o Russomanno, que é representante da Igreja Universal. Ele nega, claro, mas seus programas de TV só vão ao ar depois de passar pela direção de jornalismo da Record, enquanto obreiros da Igreja Universal visitam casas da periferia, distribuindo santinhos do Russomanno. Assim, amigos leitores, pode ser que em 2013 a cidade de São Paulo seja governada pelo bispo Edir Macedo, o rei dos supermercados da fé que crescem no país e no exterior. Há pouco, uma marcha reuniu 4 milhões nas ruas de São Paulo, todos embalados pelo desejo de alguma certeza palpável, que os evangélicos prometem. Vejam na TV os milhares de rostos famintos de resposta para suas vidas angustiadas, pastoreados por bispos que parecem assaltantes, gordos, vulgares e milionários, com fazendas, aviões e apartamentos em Miami. Ou seja, está surgindo uma espécie de ‘islamização’ da política no país, com os votos comandados fortemente pelas igrejas. Já há milhões de fiéis que votam com Deus e política, como no Islã.”
Trecho de A “islamização” da política, Serra e PT, artigo de Arnaldo Jabor