“Baudelaire escreveu certa vez que todo gênio resulta da fusão entre a inocência infantil e a vontade racional do adulto. Nesse sentido, o jornalista é um dos poucos exemplos, o único talvez, de gênio não artístico. Ele trata a vida não exatamente como uma página em branco, mas como uma página cinzenta – sua inocência consiste no fato de que se tornou desiludido demais para se decepcionar. Por isso, como criança, aceita a realidade tal como ela é. Assim como uma pessoa, à medida que envelhece, anseia pelo paraíso da infância, o jornalista deseja encontrar um equilíbrio moral em cada situação. Ele tem uma desconfiança instintiva de pessoas com demasiada influência, de organizações que se tornaram demasiado grandes, de situações que parecem demasiado certinhas e harmoniosas. Em um dos grandes filmes mexicanos de Luis Buñuel, El, ele nos mostra a casa perfeitamente mobiliada de um arquiteto, para depois descobrirmos, quando uma criada vai à procura de alguma coisa, um completo caos dentro de um armário. O arquiteto se revela um monstro ciumento que quase mata a própria mulher. O jornalista sai atrás do armário caótico na casa perfeita, na esperança de expor um desequilíbrio patológico de poder antes de ele se tornar criminoso.”
Trecho do artigo A curiosidade matinal que nos acorda, de Lee Siegel