“Todos conhecemos a história bíblica de Lázaro, o homem que Jesus ressuscitou dos mortos. O que não conhecemos é a vida que Lázaro teve após a ressurreição. Como será regressar dos mortos? Como será ter o conhecimento do outro lado e voltar a cruzar o rio para o nosso lado? Será uma experiência que permite uma vida normal – e, sobretudo, uma nova morte normal? C.S. Lewis, o conhecido escritor e pregador cristão, escreveu em A Grief Observed, diário de seu luto depois da morte da mulher, que Lázaro é uma figura imensamente trágica, cujo destino não devemos desejar a ninguém. Nem sequer aos que mais amamos. Porque não existe algo mais trágico do que experimentar uma vez o ordálio aterrador da morte e ser depois restituído à vida para voltar a passar pela mesma experiência terminal. Morrer uma vez basta. Morrer duas vezes devasta.”
Poeta? Sou, mas de quinta categoria.
Não fiquei no claustro
limando a escrita.
Fiz minha poesia nas esquinas
vendo as putas sendo pagas
por homens sem amor.
Minha poesia não tem rima
é a vida torta
um horror.
“Ludovica nunca gostou de enfrentar o céu. Em criança, já a atormentava um horror a espaços abertos. Sentia-se, ao sair de casa, frágil e vulnerável, como uma tartaruga a quem tivessem arrancado a carapaça. Muito pequena, 6, 7 anos, recusava-se a ir para a escola sem a proteção de um guarda-chuva negro, enorme, fosse qual fosse o estado do tempo. Nem a irritação dos pais, nem a troça cruel das outras crianças a demoviam. Mais tarde, melhorou. Até que aconteceu aquilo a que ela chamava O Acidente e passou a olhar para esse pavor primordial como uma premonição. Após a morte dos pais ficou a viver em casa da irmã. Raramente saía. Ganhava algum dinheiro lecionando português a adolescentes entediados. Além disso, lia, bordava, tocava piano, via televisão, cozinhava. Ao anoitecer, aproximava-se da janela e olhava para a escuridão como quem se debruça sobre um abismo. Odete sacudia a cabeça, aborrecida: ‘O que se passa, Ludo? Tens medo de cair entre as estrelas?'”
“Em 1755, após um terremoto e um tsunami devastarem Lisboa, matando dezenas de milhares de pessoas, os iluministas questionaram como o universo poderia ter sido inventado por uma criatura onipotente, onisciente e benevolente. ‘Este não pode ser o melhor dos mundos’, disse Voltaire por meio de seu personagem Cândido. Concordo com ele, e me intriga o fato de cristãos tradicionais testemunharem calamidades similares hoje em dia e continuarem a crer em um deus com semelhantes atributos.”
“Ao Ziraldo, quando me chamou para os 80 anos dele, eu expliquei que não poderia ir porque estaria fazendo uns exames no Sírio Libanês. Aliás, sabe qual a melhor empadinha de frango do Brasil? É a da lanchonete do Sírio. Recomendo vivamente. A hotelaria daquele hospital é um negócio fantástico, você morre muito bem.”
“No instante em que se desmancha
a pele, o hálito, a dança,
ouve-se o aviso enorme
de algo que invade e que envolve:
‘é coisa estranha, a morte’.
No entanto, mesmo cansado,
mesmo com sono ou com tédio,
convivo com o que vejo,
e, frente a ela, percebo
a coisa estranha: a vida.”
“Solidão,
olhe, a casa é sua.”
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