“Morri em Santa Maria hoje.
(…) Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio.
Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda.
Morri porque já confundi a porta de banheiro com a de emergência.
Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa.
Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram.”
“como na primeira vez que sonhei
que a faxineira travesti
invadia minha casa
abrindo janelas em móbiles
e currando os convidados da festa”
Sou contra a morte _que, no entanto, não é contra mim.
“Não vou dizer que escrever crônica é como andar de bicicleta. A gente pode desaprender, sim. Aliás, nem andar de bicicleta é como andar de bicicleta. Sempre se tem de recuperar o equilíbrio.”
“suicídio é homicídio
me informa minha analista
– o outro ao menos não morre
o suicida é altruísta?”
“Quando eu te vi fechar a porta, eu pensei em me atirar pela janela do oitavo andar,
Onde a dona Maria mora, porque ela me adora, e eu sempre posso entrar.
Era bem o tempo de você chegar no T, olhar no espelho o seu cabelo, falar com o seu Zé,
E me ver caindo em cima de você, como uma bigorna cai em cima de um cartoon qualquer.
E ai, só nos dois no chão frio,
De conchinha bem no meio fio,
No asfalto, riscados de giz,
Imagina que cena feliz.
Quando os paramédicos chegassem e os bombeiros retirassem nossos corpos do Leblon,
A gente ia para o necrotério ficar brincando de sério, deitadinhos no bem-bom.
Cada um feito um picolé,
Com a mesma etiqueta no pé.
Na autópsia daria pra ver,
Como eu só morri por você.
Quando eu te vi fechar a porta, eu pensei em me atirar pela janela do oitavo andar,
Invés disso, eu dei meia volta e comi uma torta inteira de amora no jantar.”
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