“‘Sentes frio? Tens saudades de teus pais?’
A condessa sorri.
Não. É somente porque a infância lhe caiu dos ombros
_esse suave traje nubloso. Quem lho arrebatou. ”Tu?’,
pergunta com uma voz que nunca tinha ouvido. ‘Tu!’
E agora não há nada por cima dele. E está despido como um
santo. Claro e esguio.”
“Não existe louvação ou crítica demolidora que não parta de um equívoco.”
Roupa suja se leva on-line?
A infância sempre se lembra de nós, ainda que não nos lembremos dela.
“Que tudo seja leve de tal forma que o tempo nunca leve.”
“A noção de progresso se apoia na ideia de que o aumento do conhecimento e o avanço da espécie, ao menos no longo prazo, andam juntos, mas não há razão para acreditar que assim seja, apenas esperança. O mito de Prometeu, acorrentado por ter se apoderado do fogo dos deuses, assim como o de Adão e Eva, condenados pela tentação irrefreável, contêm uma verdade que nos é profundamente desconfortável: o conhecimento não nos libera de nossa condição de ser apenas mais um animal sobre a Terra. É por isso que o pensador John Gray afirma que nos últimos dois séculos a filosofia se voltou contra a fé, mas não se livrou do principal equívoco do cristianismo: a crença de que os homens sejam radicalmente diferentes dos outros animais.
Abrimos mão da ilusão da individualidade preservada após a morte, da esperança religiosa na vida eterna, baseada na fé, mas insustentável diante do avanço da razão, e as substituímos pela ilusão do avanço eterno da humanidade. Ainda que assim fosse, que a humanidade efetivamente progredisse, seja lá o que se entenda por progresso da humanidade, que nos importa, a nós individualmente, condenados a envelhecer e a morrer? Por que motivo o progresso da humanidade deveria nos reconfortar de uma vida de sofrimentos, doença e morte? Por que deveríamos estar dispostos a nos oferecer em sacrifício no altar do progresso desse ser abstrato que denominamos ‘a humanidade’? Poder-se-ia argumentar que a compaixão, a capacidade de sentir com o outro, que faz de nós um animal social, que nos une, não apenas àqueles que conhecemos e que nos são próximos, mas até mesmo aos desconhecidos, a todos com quem compartilhamos a Terra, seria o amálgama de nossa identificação com a humanidade. Mas são coisas muito distintas. Uma coisa é a compaixão pelos nossos contemporâneos, mesmo em relação a suas condições de vida depois de nossa morte. Também a compaixão pelos que nos antecederam, cuja história conhecemos, faz sentido. Mas, se aceitamos a morte como definitiva, é difícil sustentar que o eventual progresso de uma entidade abstrata, com a qual nada compartilharemos, possa ser invocado para minorar nossa dor.
Precisamos desesperadamente encontrar um sentido para a existência. Despidos da religiosidade tradicional, já não podemos mais crer na sacralidade da vida. Passamos então a crer no progresso da humanidade. Infelizmente, trocamos uma bela e reconfortante ilusão por um mito arrogante. É essa arrogância que aparece no desprezo pelo planeta, que subordina toda biodiversidade ao nosso instinto predador, que nos faz acreditar sermos capazes de controlar nosso mundo e nosso destino.”
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