Refém da exclamação

“Não lembro quando usei pela primeira vez, mas imagino que as razões tenham sido as mesmas de todo mundo: dar uma descontraída, uma turbinada. Que mal tem? – devo ter pensado: grandes artistas usaram, os jovens mandam uma, duas, três, simultaneamente, a toda hora e em qualquer lugar: por que não? Se soubesse, lá atrás, aonde iria chegar, jamais teria experimentado: agora é tarde, Inês é morta. Ou melhor: é morta!!! – digo, exibindo a céu aberto meu vício nesta praga ortográfica: a exclamação. Não quero me eximir da responsabilidade – um alcoólatra não pode culpar um pé na bunda, a má fase do Palmeiras ou as letras do Reginaldo Rossi por seu estado -, mas há, decerto, fatores que colaboram para a dependência. No meu caso: a pressa. Tivesse mais tempo para tudo o que não é trabalho, conseguisse cultivar as amizades com a calma que elas merecem e não estaria agora enviando e-mails com ‘abs!’, ‘bjs!’, ‘claro!’, ‘vamos!’ e até mesmo – Deus, em sua infinita misericórdia, tenha piedade de mim -: ‘Hahaha!!!'”

Trecho de !!!!!!!!!, crônica de Antonio Prata

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