“A filha de uma amiga usou durante muito tempo aqueles tênis que apitam. Para um adulto, era inacreditavelmente insuportável o barulho que faziam a cada passo da garota. Uma vez perguntei à minha amiga por que ela não proibia os tais tênis, e ela respondeu: ‘Porque a menina gosta deles!’ Imagine fazer parte dessa nova geração, descobrindo a cada alegre apitada de seus tênis que Galileu estava errado: é você, e não o sol, o centro do universo! Não posso deixar de pensar que nossos pais jamais teriam suportado tênis que apitam ou conversas de adultos que giram inteiramente em torno de crianças. Eles nos amavam tanto quanto amamos nossos filhos, mas, até onde me lembro, tinham suas próprias vidas, e nós brincávamos em torno delas. Eles não planejavam fins de semana inteiramente em torno de teatro infantil, aulas de arte para crianças, aulas de piano e festinhas de aniversário. Por que, muitos de nós nos perguntamos, nossos filhos não brincam sozinhos? Por que eles não têm a vida interior que, ainda vagamente, lembramos ter em nossas próprias infâncias? A resposta parece óbvia: porque, cheios de boas intenções, nos devotamos excessivamente à educação, ao entretenimento e à formação em geral de nossos filhos. Porque deixamos de lado a ideia de uma vida adulta independente, por não permitirmos que nossos filhos imaginem um lugar para si em seus quartos, no tapete ou no jardim; em suma, por não permitirmos que tenham uma vida própria.”