“‘À primeira vista um enorme fórum de livre debate, as redes são formadas por células que mais reiteram seus hábitos e certezas do que os submetem à discussão. Esta, quando ocorre, adquire tons de estéril guerrilha verbal’, afirma o editorial da Folha de domingo passado. Muitos livros sobre as redes já notaram essa tendência a que cada usuário forme uma rede pessoal que espelhe suas posições ideológicas (as tais ‘células’ do editorial). Essa tendência me parece verdadeira, mas o fundamental aqui é que essa crítica se volta também contra a mídia tradicional, com a mesma pertinência — e isso nunca foi tão explicitado, nunca se tornou tão evidente quanto agora, precisamente pela produção crítica que circula nas redes. A grande mídia tradicional abre espaço para o contraditório, mas sua visão dominante tende a construir a realidade para seus leitores segundo os mesmos princípios acima criticados. Nesse momento histórico dos protestos, não tem sido possível sustentar uma suposta naturalização da produção da realidade (a realidade, não custa ser didático aqui, é sempre uma produção). Os ideários políticos que orientam a interpretação da realidade foram escancarados. E para isso muito têm contribuído as redes sociais. Vou dar um exemplo, servindo-me do próprio jornal O Globo. O Papa Francisco, em seu discurso no Theatro Municipal, disse a seguinte frase: ‘Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo’. No dia seguinte, a manchete da capa do Globo era: ‘Papa prega diálogo contra protestos violentos’. Ora, o Papa criticou, ao mesmo tempo, o Estado surdo e a resposta violenta das ruas. Ao optar por suprimir a crítica do Papa ao Estado (no caso, a carapuça serve como uma luva ao governador Sérgio Cabral), o jornal praticou precisamente uma ‘reiteração de suas certezas’.”
“Guio-me por um lema: menos é menos. Odeio a frase batida ‘menos é mais’ porque nela está implícita a filosofia de que mais é melhor. Nem sempre mais é melhor. Menos pode ser, sim, uma opção para melhorar a nossa vida. Trabalhar menos nos dá tempo livre para viver e trabalhar melhor. Ter menos empregados permite ter empregados melhores e mais comprometidos. Hoje, a filosofia dos negócios exibe como única opção o mais: crescer rápido, vender mais, produzir mais, lucrar mais. Claro que é importante crescer, vender e lucrar. Mas muitas vezes perdemos o foco e somos desonestos com nossos projetos por causa disso.”
Ele só abordaria a segmentação do público-alvo?
“O Sol nasce para todos. Já o crepúsculo sempre me pareceu meio classe média.”
“Tudo é mesmo um só momento
Tudo sempre à mesma hora
E se um dia tudo acaba
Tudo eu quero e quero agora”
as omoplatas
são os seios
das costas?
“No português, o mesmo verbo que designa o nobre sentimento da esperança fala sobre aguardar as chatices do dia-a-dia. Talvez seja por isso que esperar as coisas melhorarem soe tão difícil quanto esperar o ônibus numa manhã gelada. Prefiro o italiano, em que sperare una vita meglio parece muito mais promissor e atraente do que aspettare l’autobus.”
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