“o que um rato (que passeava na sarjeta) disse
ao ver um morcego que voava, perdido?
‘deus meu!
um anjo!…'”
“o que um rato (que passeava na sarjeta) disse
ao ver um morcego que voava, perdido?
‘deus meu!
um anjo!…'”
“Rolava o ano de 1971, fomos presos por haver cometido grave delito. Eu fora pego por populares que, se não chegam os policiais, teriam acabado comigo. Pingo, meu parceiro, havia sido torturado pelos policiais. Estávamos quebrados. Mas as vítimas, com medo de represálias, recusaram-se a registrar queixa. Os policiais teriam que nos soltar, pois sem registro não há crime. Mas o delegado, revoltado, determinou que nos esquecessem em uma cela da delegacia. Demos graças quando nos deixaram em paz. Os tiras não podiam nos ver que já queriam bater. Não havia outros presos e a carceragem ficava no porão. Na cela só havia nós, a privada e dois rolos de papel higiênico. Os dias foram passando e ninguém descia ao porão para nos ver. A fome começou a apertar. Bebíamos água para enganar o estômago. Pingo começou a gritar, bater nas grades, fazer escândalo e nada de alguém aparecer. Depois de seis dias sem que ninguém nos desse atenção, já tontos de fraqueza, pensamos que tínhamos sido abandonados ali para morrer de fome. Foi quando Pingo veio com a ideia: vamos comer o rolo de papel higiênico? A princípio achei que não dava, o gosto devia ser muito ruim. Mas ele argumentou: molhado até que podia descer. Estava desesperado de fome, falou em comermos seu sapato, que era de couro. Eu salivava, mas não me desesperava. Não acreditava que levassem aquilo até o fim. Achava que era blefe, queriam nos assustar; logo trariam comida e nos soltariam. Gritamos, tentamos atrair a atenção novamente. Mas, no oitavo dia, molhamos o papel higiênico, fizemos umas massas macias e fomos mastigando com os dentes já meio moles, fazendo caretas e engolindo. Logo em seguida vomitamos tudo, misturado com sangue e uma dor aguda no estômago. Passaram-se mais de 40 anos e ainda sinto aquele gosto horrível na boca.”
“Quem quer, faz. Quem não quer, manda. Rosinha, a caseira, fazia tudo sem esperar ser mandada. Queria e fazia de tudo. Matilde, a senhoria, poderia até estar satisfeita com a caseira, não fosse ter uma cria por ali sempre a meter o bedelho e depois a caseira enfiar o velho Rodrigues em casa e andar sempre a suspirar por ele. A Matilde dizia-lhe para ir suspirar por alguma coisa de valor, como um pouco de dinheiro no banco ou um par de aulas para a filha, mas a outra estava aflita com os amores e não era por viver encantada com um homem tão mais velho que o encanto diminuía. As pessoas eram assim mesmo, feitas de imprudências. Olhe, dizia a Rosinha, quem sabe se a imprudência é a felicidade.”
“Alô? Renan? Bom dia, tudo bem? Tudo ótimo. Então, eu tava tentando ligar pra FAB agora pra saber itinerário, escala de voo, disponibilidade e tal, mas tá dando ocupado. Você sabe se tá com algum problema lá na central? Não, né? Bom, de qualquer forma, como hoje é segunda e o senhor não trabalha, achei que como profundo conhecedor da aviação brasileira o senhor pudesse me ajudar com isso. Ah, que ótimo. Então, eu tenho que fazer um show de stand-up na segunda à noite em São Paulo, mas é aniversário da minha irmã no Rio. Alice. Isso. Um amor ela. Então, aí eu tava querendo saber se tem como, se tem disponibilidade de voo. Dia cinco de setembro. Cai numa quinta. Isso. Oi? Não, helicóptero não dá porque é aniversário da babá do Sérgio e ele vai usar o dia inteiro. Dos filhos dele, né? Pois é. Vou até tentar dar uma passada lá também. O voo seria só de ida. Sim, seria só eu. Não, imagina, não me incomodo nem um pouco de dividir jatinho com o Henriquinho. Ele vai sozinho? Vai estar com uns amigos de Trancoso, claro, sem problema. E como é que eu faço então? Tá eu espero.
Dois minutos depois…
Oi, tô aqui. Pô, a musiquinha de espera ser a da Voz do Brasil é sacanagem, hein? Mas me fala, e aí? O sistema caiu. E agora, hein? Eu tava precisando confirmar isso hoje ainda pra me programar. Minha irmã tá me cobrando. Lá na FAB ainda tá dando ocupado. Um absurdo isso, né? Quer ter uma companhia aérea tem que respeitar os clientes.”
“Nunca deixe de perdoar seus inimigos – nada os aborrece tanto.”
“Eu nasci bem depois dos bons e velhos tempos. Disso tenho certeza. Só não tenho certeza é de quando foram – nem do que foram – os bons e velhos tempos.”
“Carrão não buzina.
Carrão passa por cima da lei.
Carr…ão tem nome em inglês.
Carrão não fala português.
Carrão não respeita o sinal.
Carrão é um cão pitbull.”
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