Já lhe ocorreu morar num musical?

“Todas as tardes, às 17h, pontualmente, uma canção invade as ruas de Tóquio. Dura uns 30 segundos. Nunca falha. O som vem de alto-falantes instalados em postes, e a escolha da trilha varia dependendo da região da cidade. No meu bairro, toca uma canção de ninar tradicional chamada Yuuyake Koyake, que toda criança japonesa cresce ouvindo. Haviam me dito que se tratava de um aviso para as crianças de que a noite se aproxima e que elas devem voltar para casa. A explicação faz sentido e é poética. Combina com um lugar em que tudo funciona por meio de regra coletiva e é comum ver crianças irem desacompanhadas à escola. Depois, porém, no site da prefeitura, descobri que o objetivo daquela música diária é verificar que os alto-falantes estejam funcionando em caso de catástrofe ou terremoto. Também faz sentido. Uma função não invalida a outra. Com uma cajadada, matam-se dois coelhos. Ou, como se diria por aqui, Isseki Nicho.”

Trecho do artigo Um coração de metal, escrito por Alexandre Vidal Porto

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