“Pedir um café já é parte da existência, é hábito, é ritual inconsciente.
Foi assim que na semana passada eu me sentei numa mesa para uma reuniãozinha e imediatamente pedi o meu café.
— Vou trazer o cardápio.
— Não precisa. Eu só quero um café.
— Vou lhe trazer o cardápio.
Foi colocado em minhas mãos um cardápio de cafés. O mundo está ficando mesmo muito complicado! Não sabia o que fazer. Queria provar todos! Eu adoro café! Mas uma xícara de café é um dos poucos portos que ainda temos neste caleidoscópio ciclônico que inventamos pra viver e não gostaria que também isso passasse por uma reforma toda semana! É porto. Quero reconhecê-lo e senti-lo tal como é a cada vez. Como um copo d’água. Meu Deus! Será que vão fazer isso com a água também?! Teremos que escolher que água vamos querer tomar? Já não basta o que aconteceu com o nosso vinho? Adoro um bom vinho, mas me aflijo um pouco quando alguém na mesa ousa chamá-lo de selvagem ou impetuoso. Minha alma se agita no vazio na busca de tanta particularidade para coisas tão essenciais. ‘Escolha é perda.’ Li uma vez essa frase e ela me conforta muito em momentos de indecisão. Devolvi o cardápio ao garçom pedindo só um café normal.
— Mas de qual normal a senhora gostaria?
— Aquele! — apontei pra mesa do lado.
Decidi perder todas as possíveis variações do grão pra ganhar de volta o meu café. O normal, o qualquer um.”
Trecho de Apenas um Café, crônica de Denise Fraga
Publicado
segunda-feira, 24 de março de 2014 às 4:15 pm e categorizado como Blog.
Você pode deixar um comentário, ou fazer um trackback a partir do seu site.
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“Pedir um café já é parte da existência, é hábito, é ritual inconsciente.
Foi assim que na semana passada eu me sentei numa mesa para uma reuniãozinha e imediatamente pedi o meu café.
— Vou trazer o cardápio.
— Não precisa. Eu só quero um café.
— Vou lhe trazer o cardápio.
Foi colocado em minhas mãos um cardápio de cafés. O mundo está ficando mesmo muito complicado! Não sabia o que fazer. Queria provar todos! Eu adoro café! Mas uma xícara de café é um dos poucos portos que ainda temos neste caleidoscópio ciclônico que inventamos pra viver e não gostaria que também isso passasse por uma reforma toda semana! É porto. Quero reconhecê-lo e senti-lo tal como é a cada vez. Como um copo d’água. Meu Deus! Será que vão fazer isso com a água também?! Teremos que escolher que água vamos querer tomar? Já não basta o que aconteceu com o nosso vinho? Adoro um bom vinho, mas me aflijo um pouco quando alguém na mesa ousa chamá-lo de selvagem ou impetuoso. Minha alma se agita no vazio na busca de tanta particularidade para coisas tão essenciais. ‘Escolha é perda.’ Li uma vez essa frase e ela me conforta muito em momentos de indecisão. Devolvi o cardápio ao garçom pedindo só um café normal.
— Mas de qual normal a senhora gostaria?
— Aquele! — apontei pra mesa do lado.
Decidi perder todas as possíveis variações do grão pra ganhar de volta o meu café. O normal, o qualquer um.”
Trecho de Apenas um Café, crônica de Denise Fraga
Publicado segunda-feira, 24 de março de 2014 às 4:15 pm e categorizado como Blog. Você pode deixar um comentário, ou fazer um trackback a partir do seu site.