Viver a qualquer preço?

“‘Ele tem 16 anos, um câncer de boca horroroso, aberto, fedendo, mal anda por causa das metástases, mas o médico disse que faz a remoção da mandíbula e uma abertura no estômago para ele se alimentar. Eu queria que ele morresse logo, não tenho dinheiro, mas… e a culpa?’ Meu choque diante dessa história é que se trata de um cão mais que centenário, sofrendo, alugando e atormentando a vida da minha paciente. O que aconteceu com a morte, que nem é mais permitida aos animais que sofrem, que dirá a nós, humanos?
Ano de 1973, um dos meus pacientes no Hospital de Bonsucesso era um velhinho caquético com câncer de fígado que finalmente teve uma parada cardíaca na minha frente. Iniciei logo os processos de reanimação (massagem cardíaca etc.). Debalde. O chefe de clínica, meu hoje amigo Prof. Alvariz, me chamou: ‘Daudt, aquilo não se chama parada cardíaca. Chama-se MORTE. É necessário saber a diferença’.”

Trecho de Condenados à vida, artigo do médico e psicanalista Francisco Daudt

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