Bem-aventurada a desventura?

“Sou devoto dos cachorros mancos. Aquele cachorro com uma perna imaginária, apoiando-se no vento. Admiro imensamente o vira-lata que, apesar de quebrado, percorre seu trajeto com o focinho erguido. Que altivez! Que elegância vinda do desespero! Irei segui-lo na rua para descobrir o que come e onde mora. Posso entornar as latas de lixo para me tornar igual. Posso errar o caminho do trabalho e respirar Porto Alegre atrás de seu vulto. Fico curioso e assombrado pela força sobrenatural que emana de seu andar. (…) Não tenho pena dele, nem cometo o desatino de me comparar. O cão manco é um homem inteiro.”

Trecho de Cachorro Manco, crônica de Fabrício Carpinejar

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