“Não faz muito, o escritor israelense Etgar Keret foi surpreendido por um pedido de Lev, seu filho pequeno. ‘Papai, me ajuda a construir uma bomba? É para jogar nos palestinos’, disse o garoto, então com 7 anos. Sua justificativa era simples: o Hamas acabara de lançar mísseis em Tel Aviv, e o pai sempre lhe dissera que, quando seus colegas começavam uma briga no colégio, ele tinha o direito de se defender.
— Isso nos levou a uma longa conversa — conta Keret, em entrevista ao GLOBO por e-mail, de Tel Aviv. — Primeiro eu expus as razões dos palestinos. Falei sobre a necessidade deles de independência, e sobre a humilhação diária que é não poder se deslocar livremente sem ser parado por pontos de controle. Meu filho argumentou que isso não era justificativa para lançar mísseis. Então, eu e minha esposa criamos pontos de controle pela nossa sala. Cada vez que Lev passava por lá, fosse para fazer xixi ou preparar suas tarefas escolares, nós o segurávamos para um interrogatório lento e tedioso. ‘Qual o seu nome?’ ‘Por que quer passar?’ etc. Depois de algumas horas, ele entendeu. Nunca mais tivemos conversas sobre lançar bombas.”
Trecho da reportagem Atração da Flip, Etgar Keret usa surrealismo para desconstruir preconceitos, escrita por Bolívar Torres