“Marina Silva, a ex-petista cujo projeto o PT deveria ter tratado com mais carinho, fraternidade e elegância (e inteligência política inclusive), foi tratada a pontapés. E acordar os demônios políticos a pontapés certamente não foi uma boa escolha. Foi uma escolha de fraqueza, não de força. A posição de Marina já era delicada. Não por ela ser ‘indecisa’, como o PT afirmou, mas por ter um discurso menos linear e mais difícil de sustentar e explicar. O PT descarregou todo seu arsenal de imprecisões, exageros e inverdades numa ex-companheira, uma ex-ministra de Lula. O efeito, além de ser politicamente emburrecedor, pode ser eleitoralmente burro. O que o PT conseguiu, por enquanto, foi trazer um Aécio que já esteve rendido de volta, seguro, motivado e na ascendente. Perdeu-se a oportunidade histórica de ter no segundo turno duas mulheres, de um campo político socialmente mais generoso, no que seriam as eleições mais bonitas e politicamente qualificadas de toda a história do país. Ao contrário, o PT resolveu provocar os piores instintos do eleitorado, mobilizar a ignorância e a imaturidade políticas da nação (essa mesma que, para falar só de São Paulo e das primeiras colocações, elege Russomanno, Bolsonaro, Maluf e Tiririca. Ou que reforça o grande percentual de votos nulos, brancos e abstenções). (…) Ao escolher ‘derrotar’ junho, junto com gente como Alckmin e ‘Cabrão’ (Cabral + Pezão), ao invés de depurá-lo, o PT faz uma manobra arrogante e impensada, talvez suicida. O que a enorme transferência de votos de Marina para Aécio instantes antes da votação demonstra é óbvio. Que, para um monte de gente, a prioridade é simplesmente barrar o PT. O PT ‘escolheu’ Aécio em vez de Marina. E, ao evitar lidar com uma figura híbrida, cujo programa tinha traços neoliberais, mas cuja prática está enraizada nas camadas mais sofridas e solidárias da sociedade, o PT escolhe um Brasil conflagrado, venezualizado, o do ‘eles contra nós’ (falsos eles contra falsos nós), pondo o barco de todos em risco. (…) O partido fez escolhas políticas patriarcais, para quem gosta dos modos do patriarcado: apelo ao medo, à violência psicossocial, à manipulação. Confesso que, ‘enquanto comédia de erros’, acho engraçado o PT levar esse Aécio redivivo para o segundo turno. Será ainda mais engraçado se Aécio ganhar. (…) O PT escolheu dar razão a quem acha que o PT é o maior problema do Brasil. Agora é, finalmente.”
Trecho de O desserviço final do PT ao Brasil, artigo de Alex Antunes