“Pra riba de mim, Deus pode mandar o que Ele quiser
O mundo é grande e marrueiro
Grande é o amor
Grande é a fé
Grande é o poder de Maria, esposa de São José
O diabo, anjo mardito, foi grande como inda é
Mas nada é mais grande e marrueiro
Mais grande que Deus inté
Do que a chifrada mardita dos óio de uma muié”
“É evidente que existem duas causas essencialmente diferentes dos distúrbios físicos, uma íntima, causa interna, que provém do próprio homem, e uma exterior, causa externa, que emana do ambiente. Aceitando essa clara distinção, lançamo-nos com ímpeto avassalador sobre as causas externas. (…) E a causa interna, desta nos esquecemos. Por quê? Porque não é agradável olhar para dentro de nós mesmos.”
“Eu, agora – que desfecho!
Já nem penso mais em ti…
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?”
“Era sexta-feira, 9 de janeiro, no início da noite. (…) [Durante a primeira manifestação do ano contra o aumento de 50 centavos na tarifa do ônibus em São Paulo,] os black blocs e alguns outros tinham se adiantado e começavam a dar chutes em portas de ferro, arrancavam latas de lixo e espalhavam o conteúdo no meio da rua. Foi quando o vi. Vestido de amarelo, ele estava alheio aos mascarados de preto. Mas seguia-os. Sabendo como os black blocs agem nos protestos, ele me contaria em seguida, costuma segui-los para recolher as latinhas de refrigerante e cerveja. E assim fazia esse balé surreal em que ele parecia recortado de uma outra cena, alheio ao que acontecia, atento apenas ao chão, caminhando lentamente na vanguarda da marcha enquanto ao redor o caos se instalava.
Abordei-o, me apresentei como jornalista, e ele me disse que se chamava Ailton da Silva, tinha 58 anos e morava em São Miguel Paulista, na zona leste, uma das regiões mais pobres da capital. Aquela que alaga a cada chuva e é a primeira a ficar sem água nas torneiras nesses tempos em que São Paulo se aproxima mais e mais de um cenário de distopia. Para juntar o equivalente ao valor de uma passagem de ônibus, depois do aumento – R$ 3,50 –, Ailton precisaria, pelos seus cálculos, de quase 100 latinhas. Ele estava bem longe disso. Algo para aqueles que dizem ‘é só 50 centavos’ pensarem. ‘Só’ para quem?”
“Depois de décadas de retraimento econômico e perda de importância cultural, a França recupera, por vias tortas, o protagonismo perdido. Tudo que ela simbolizava de ultrapassado – o intelectualismo, a iconoclastia anarquista, a verborragia do debate na imprensa, o pendor esquerdizante inspirado em 68, o estado inchado, as marchas organizadas – parece voltar a seu favor. (…) Quando achávamos que a internet estava ganhando a batalha contra a imprensa escrita, quando tínhamos certeza de que a era da imagem estava tornando banal qualquer tipo de agressão em forma de desenho, quando era evidente que a França tinha sucumbido ao pragmatismo americano, eis que tudo vira do avesso: por causa do atentado a um pasquim impresso embebido de espírito meia-oito, temos um momento histórico de volta da França, da imprensa escrita, da sátira política, do cartum anarquista. Para coroar a inversão de expectativas, os terroristas que praticaram o atentado ao Charlie Hebdo foram emboscados e mortos nas dependências de uma… gráfica. Não é à toa que o grande emblema da resistência tenha assumido a forma de um lápis.”
“Um animal de que tenho muito medo é o Extratossaurus Bancarius.”
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