Se filho de peixe, peixinho é, por que filho de dinossauro, dinossaurinho não é?
Se filho de peixe, peixinho é, por que filho de dinossauro, dinossaurinho não é?
“mandaram que ele matasse
vários homens
– e lhe deram várias medalhas
quando resolveu
amar outro homem
– lhe deram várias facadas”
“Tenho a impressão de que algo na aviação nos remete a Prometeu. Na infância, trabalhava em casa uma senhora muito boa, Antônia, e ela dizia sempre que nunca viajaria de avião, porque, se Deus quisesse que voássemos, nos teria feito com asas. Sempre que um avião levanta voo está se afirmando contra Deus. Essa é a beleza de Only Angels Have Wings, o filme que lamentavelmente foi denominado Paraíso Infernal por aqui. O certo seria, claro, trabalhar na literalidade: Só os Anjos Têm Asas. Mas pagamos caro por esse desafio. Há os que morrem, os demais ficam com os pesadelos. Os pilotos de Only Angels, quando morria um colega, o enterravam e tratavam de esquecê-lo, caso contrário não poderiam mais subir num avião (e os aviões deles… caramba, eram uns calhambeques diabólicos). No fundo, nós fazemos a mesma coisa. À força de se tornarem banais, as viagens aéreas já não assustam. No entanto, sim, desafiamos os deuses e nos afirmamos como homens em cada uma delas. De tempos em tempos, os deuses castigam.”
Com quantos paus de selfie se faz uma canoa de insensatez?
Depois de ganhar a medalha de ouro nas Olimpíadas de Roma, em 1960, o boxeador Cassius Clay – mais tarde, rebatizado como Muhammad Ali – entrou numa lanchonete dos Estados Unidos.
– Por favor, poderia me dar uma xícara de café e um cachorro-quente?, pediu para o funcionário da casa.
– Nós não servimos negros aqui.
– Sem problemas. Eu não como negros. Me traga logo o cachorro-quente.
“O amor é (…)
A patada da fera
Na cara do domador”
“Ei, você, que acha que eu sou louco, sou safado
Eu tava meio bebo, tava meio emocionado
Mas eu sou um anjo, anjo
Bobeia pra ver que eu te faço um estrago
Só porque eu te puxei pelo braço
Agarrei no seu cabelo e te dei um abraço
E falei baixinho no seu ouvidinho:
Vamos lá pra casa que eu faço gostosinho
Tava tonto demais, nem percebi
As amigas dela tão rindo
Será que é de mim?”
“O vôo Germanwings 9525 (caso a versão atual se confirme) é uma metáfora política quase perfeita. Ser passageiro de um avião voando a 10 mil metros de altura é como ter a vida nas mãos de um ditador, que pode levar-nos ao ápice da fartura e do bem-estar, como o recém-falecido Lee Kuan Yew, ou, como o copiloto alemão, despedaçar-se conosco nas encostas alpinas. Este último chegou ao poder absoluto através de um golpe palaciano, mas havia chegado perto do poder subindo os árduos degraus da hierarquia burocrática ou técnica com todos os controles que esta possui. Obviamente, o ideal seria nunca, nunca mesmo, delegar a ninguém o poder absoluto sobre nossas vidas, e, nos limites da metáfora, já que não é possível todos aprendermos a pilotar, muitos podem deixar a viagem pra lá, outros podem ir de carro etc. Ainda assim, alguma hora, surgirá alguma situação similar, como ter que se submeter à anestesia geral para ser operado, algo que não requer menos confiança e entrega do que tomar um avião. Estatisticamente, porém, quanto mais vezes delegamos a vida a outrem, maior o risco total que corremos e, voltando à política, a democracia (provavelmente impossível a 10 mil metros de altura) ainda é a maneira ‘menos pior’ de administrar o perigo.”
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