O que os desastres aéreos nos ensinam sobre a democracia?
“O vôo Germanwings 9525 (caso a versão atual se confirme) é uma metáfora política quase perfeita. Ser passageiro de um avião voando a 10 mil metros de altura é como ter a vida nas mãos de um ditador, que pode levar-nos ao ápice da fartura e do bem-estar, como o recém-falecido Lee Kuan Yew, ou, como o copiloto alemão, despedaçar-se conosco nas encostas alpinas. Este último chegou ao poder absoluto através de um golpe palaciano, mas havia chegado perto do poder subindo os árduos degraus da hierarquia burocrática ou técnica com todos os controles que esta possui. Obviamente, o ideal seria nunca, nunca mesmo, delegar a ninguém o poder absoluto sobre nossas vidas, e, nos limites da metáfora, já que não é possível todos aprendermos a pilotar, muitos podem deixar a viagem pra lá, outros podem ir de carro etc. Ainda assim, alguma hora, surgirá alguma situação similar, como ter que se submeter à anestesia geral para ser operado, algo que não requer menos confiança e entrega do que tomar um avião. Estatisticamente, porém, quanto mais vezes delegamos a vida a outrem, maior o risco total que corremos e, voltando à política, a democracia (provavelmente impossível a 10 mil metros de altura) ainda é a maneira ‘menos pior’ de administrar o perigo.”
Do poeta e tradutor Nelson Ascher
Publicado
sexta-feira, 27 de março de 2015 às 2:18 am e categorizado como Blog.
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O que os desastres aéreos nos ensinam sobre a democracia?
“O vôo Germanwings 9525 (caso a versão atual se confirme) é uma metáfora política quase perfeita. Ser passageiro de um avião voando a 10 mil metros de altura é como ter a vida nas mãos de um ditador, que pode levar-nos ao ápice da fartura e do bem-estar, como o recém-falecido Lee Kuan Yew, ou, como o copiloto alemão, despedaçar-se conosco nas encostas alpinas. Este último chegou ao poder absoluto através de um golpe palaciano, mas havia chegado perto do poder subindo os árduos degraus da hierarquia burocrática ou técnica com todos os controles que esta possui. Obviamente, o ideal seria nunca, nunca mesmo, delegar a ninguém o poder absoluto sobre nossas vidas, e, nos limites da metáfora, já que não é possível todos aprendermos a pilotar, muitos podem deixar a viagem pra lá, outros podem ir de carro etc. Ainda assim, alguma hora, surgirá alguma situação similar, como ter que se submeter à anestesia geral para ser operado, algo que não requer menos confiança e entrega do que tomar um avião. Estatisticamente, porém, quanto mais vezes delegamos a vida a outrem, maior o risco total que corremos e, voltando à política, a democracia (provavelmente impossível a 10 mil metros de altura) ainda é a maneira ‘menos pior’ de administrar o perigo.”
Do poeta e tradutor Nelson Ascher
Publicado sexta-feira, 27 de março de 2015 às 2:18 am e categorizado como Blog. Você pode deixar um comentário, ou fazer um trackback a partir do seu site.