Se você jamais participaria de uma roleta-russa, por que continua viajando de avião?
“Tenho a impressão de que algo na aviação nos remete a Prometeu. Na infância, trabalhava em casa uma senhora muito boa, Antônia, e ela dizia sempre que nunca viajaria de avião, porque, se Deus quisesse que voássemos, nos teria feito com asas. Sempre que um avião levanta voo está se afirmando contra Deus. Essa é a beleza de Only Angels Have Wings, o filme que lamentavelmente foi denominado Paraíso Infernal por aqui. O certo seria, claro, trabalhar na literalidade: Só os Anjos Têm Asas. Mas pagamos caro por esse desafio. Há os que morrem, os demais ficam com os pesadelos. Os pilotos de Only Angels, quando morria um colega, o enterravam e tratavam de esquecê-lo, caso contrário não poderiam mais subir num avião (e os aviões deles… caramba, eram uns calhambeques diabólicos). No fundo, nós fazemos a mesma coisa. À força de se tornarem banais, as viagens aéreas já não assustam. No entanto, sim, desafiamos os deuses e nos afirmamos como homens em cada uma delas. De tempos em tempos, os deuses castigam.”
Trecho de 150, artigo do crítico cinematográfico Inácio Araujo
Publicado
terça-feira, 31 de março de 2015 às 11:34 am e categorizado como Blog.
Você pode deixar um comentário, ou fazer um trackback a partir do seu site.
Se você jamais participaria de uma roleta-russa, por que continua viajando de avião?
“Tenho a impressão de que algo na aviação nos remete a Prometeu. Na infância, trabalhava em casa uma senhora muito boa, Antônia, e ela dizia sempre que nunca viajaria de avião, porque, se Deus quisesse que voássemos, nos teria feito com asas. Sempre que um avião levanta voo está se afirmando contra Deus. Essa é a beleza de Only Angels Have Wings, o filme que lamentavelmente foi denominado Paraíso Infernal por aqui. O certo seria, claro, trabalhar na literalidade: Só os Anjos Têm Asas. Mas pagamos caro por esse desafio. Há os que morrem, os demais ficam com os pesadelos. Os pilotos de Only Angels, quando morria um colega, o enterravam e tratavam de esquecê-lo, caso contrário não poderiam mais subir num avião (e os aviões deles… caramba, eram uns calhambeques diabólicos). No fundo, nós fazemos a mesma coisa. À força de se tornarem banais, as viagens aéreas já não assustam. No entanto, sim, desafiamos os deuses e nos afirmamos como homens em cada uma delas. De tempos em tempos, os deuses castigam.”
Trecho de 150, artigo do crítico cinematográfico Inácio Araujo
Publicado terça-feira, 31 de março de 2015 às 11:34 am e categorizado como Blog. Você pode deixar um comentário, ou fazer um trackback a partir do seu site.