Às vezes, em meio à histeria que costuma tomar conta da internet quando se trata de política, encontram-se discussões cordiais e interessantes. Um exemplo: logo depois que a Câmara dos Deputados avalizou a terceirização dos trabalhadores brasileiros, Gilberto Maringoni abriu um debate sobre o tema no Facebook. Candidato ao governo paulista em 2014 pelo PSOL, o professor de relações internacionais declarou o seguinte:
“UMA DERROTA COMO ESSA NÃO SE IMPROVISA.
São 12 anos conciliando com os de cima.
São 12 anos buscando boa relação com o monopólio da mídia.
São 12 anos dando juros estratosféricos ao sistema financeiro.
São 12 anos propiciando lucros extraordinários ao ensino privado.
São 12 anos colocando reacionários em postos-chaves do governo.
São 12 anos buscando financiamento de campanha onde a direita também busca.
São 12 anos priorizando a pauta conservadora.
São 12 anos mantendo a macroeconomia de FHC em versão soft.
São 12 anos sem reforma agrária.
São 12 anos evitando confronto com os ruralistas.
São 12 anos considerando os usineiros heróis nacionais.
São 12 anos sem constitucionalizar direitos sociais.
São 12 anos sem taxar grandes fortunas.
São 12 anos evitando a reforma política.
São 12 anos se orgulhando de que os bancos nunca lucraram tanto.
São 12 anos achando que programa social focado é o máximo que se pode fazer.
São 12 anos dizendo que a meta é sermos um país de classe média.
São 12 anos indicando a elite para o Supremo Tribunal.
São 12 anos fingindo que a luta de classes acabou.
São 12 anos achando ser possível fazer um governo em que todos ganhem.
São 12 anos deixando em paz o ovo da serpente.
NÃO, AMIGAS E AMIGOS.
COMO DIRIA NELSON RODRIGUES, ESSA SURRA QUE O CONGRESSO NOS DEU É OBRA METICULOSAMENTE CONSTRUÍDA.”
Entrando na conversa, o sociólogo Giovanni Alves contra-argumentou:
“São 12 anos em que a esquerda socialista (PSOL, PCB e PSTU) não conseguiu se unir, acumular forças, disputar a hegemonia social e construir uma frente política democrática e popular alternativa a essa merda toda… E não vale dizer que a culpa é de Lula e Dilma.”
O jornalista Breno Altman, diretor editorial do site Opera Mundi, pegou carona no papo e também ponderou:
“Mas são igualmente 12 anos de luta vitoriosa contra a miséria, de elevação real do salário mínimo em mais de 70%, de política internacional contra-hegemônica, de ampliação dos direitos de educação e renda mínima, de melhoria profunda dos salários e do emprego. Sem se dar conta disso, fica só um pouquinho difícil entender quatro vitórias presidenciais seguidas, a sobrevivência contra o maior massacre midiático de nossa história e o fato de que não existe, com viabilidade e força de massa, qualquer alternativa à esquerda do PT.”
Gilberto Maringoni, então, respondeu:
“É verdade, Breno. Mas tudo evitando o confronto com a direita. Quando há crescimento econômico, o modelo lulista funciona. Quando não há e escolhas precisam ser feitas, ele entra em pane.”
Giovanni Alves novamente se pronunciou:
“Precisamos parar de criticar o PT e construir outro caminho de unidade e luta, uma nova frente verdadeiramente protagonista da política nacional, que una o conjunto de fragmentos da esquerda socialista radical. Qual o pior? As misérias do PT ou as misérias dos partidos de esquerda mais radicais que não conseguem construir frente política alternativa capaz de indicar novo caminho para o povo brasileiro?”
Por fim, Gilberto Maringoni escreveu:
“Giovanni, não se trata de simplesmente criticar o PT. Para se construir uma alternativa, é preciso avaliar o que foi esse caminho traçado desde 2002. É nossa obrigação fazer isso, para não repetir o transformismo da agremiação. Eu há anos digo que o PSOL não pode ser um partido antipetista, mas um partido à esquerda do PT. E digo também há bastante tempo que o PT pode não ser de esquerda, mas o antipetismo é de direita. O que não nos exime de avaliar a prática concreta do PT. O antipetismo é de direita. Mesmo assim, é necessário criticar o PT politicamente.”