Exibindo um bigodão digno de Stalin, o sujeito de careca lustrosa reclamava do PT enquanto dirigia, como se fizesse questão de reiterar o estereótipo do taxista selvagemente politizado. “O Lula chefia a quadrilha! E a Dilma é uma tonta, a marionete perfeita.” Referia-se, claro, à corrupção na Petrobras. Para não botar mais lenha numa fogueira que não desejava ver queimar, resolvi mudar o rumo do papo.
– Você prefere trabalhar em que parte de São Paulo?
– Na zona leste. Mas, às vezes, me animo de pegar passageiros em Congonhas.
– No aeroporto? Você é cadastrado lá?
– Não, não sou.
– Pensei que apenas os cadastrados pela prefeitura pudessem operar ali.
– Teoricamente, sim. Só que existem os macetes…
– Que macetes?
– Um grupo de fiscais, contratado pelos taxistas com cadastro, fica de olho para que os clandestinos não invadam a área. O macete é… Não preciso nem falar, certo?
– Imagino que seja molhar a mão dos fiscais.
– Do chefe deles, que distribui a grana entre os subordinados e nos revela a senha.
– Senha?
– Sabe o luminoso que tem em cima do táxi? O motorista que desembolsou a propina o acende quando chega perto do aeroporto, mesmo durante o dia. Assim que avista um fiscal, deve apagá-lo e, segundos depois, acendê-lo de novo. É a senha para que o deixem entrar na fila dos cadastrados.
– E os cadastrados não percebem que um intruso lhes passou a perna?
– Em geral, não. Há centenas e centenas de cadastrados. Como vão notar? Sem contar que, de tempos em tempos, a senha muda.
– Você não se incomoda de subornar os fiscais?
– Olha, amigo, me incomodo é com a falta de dinheiro no fim do mês. Agora, pelo amor de Deus, trate de não divulgar o nosso esquema, hein? Se o senhor comentar algo e me pedirem para confirmar, vou dizer que não sei de nada…