“Tenho amigos que sofrem com excesso de peso. E entram em dietas loucas para abaterem a carga. Disparate. Será que eles não sabem que a melhor forma de melhorar a figura é abraçar a paternidade? Fui pai há dois meses. Perdi cinco quilos. Inevitável: não é possível ser escravo de um pequeno e adorável tirano com 3,5 kg impunemente. O meu filho é o meu personal trainer, 24 horas por dia, sete dias por semana.
O treino começa logo de manhã. Manhã? Melhor escrever ‘madrugada’. Ele chora. Ele mama. Ele acalma. E, depois desse processo, qualquer pai moderno encontra a primeira prova olímpica da sua vida: o lançamento de arroto. Desconhecia a modalidade, mas explico aos iniciados: consiste em colocar o bebê em posição vertical e esperar, com uma atenção psicótica, que ele simplesmente arrote depois do repasto. Confesso dificuldades no processo: entre vários ruídos guturais, como distinguir o som claro, vibrante, inconfundível de um arroto? Há discussões conjugais a respeito. ‘Ele já arrotou?’, pergunta a mãe. ‘Não tenho a certeza’, responde o pai. E ficamos os dois à espera de Godot. Quando ele milagrosamente aparece, há uma alegria lavada em lágrimas. Quem diria que o ser humano, no fundo, precisa de tão pouco para ser feliz?”
Trecho de Pai aos 40, artigo de João Pereira Coutinho
Publicado
quarta-feira, 5 de agosto de 2015 às 8:27 pm e categorizado como Blog.
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Fitness
“Tenho amigos que sofrem com excesso de peso. E entram em dietas loucas para abaterem a carga. Disparate. Será que eles não sabem que a melhor forma de melhorar a figura é abraçar a paternidade? Fui pai há dois meses. Perdi cinco quilos. Inevitável: não é possível ser escravo de um pequeno e adorável tirano com 3,5 kg impunemente. O meu filho é o meu personal trainer, 24 horas por dia, sete dias por semana.
O treino começa logo de manhã. Manhã? Melhor escrever ‘madrugada’. Ele chora. Ele mama. Ele acalma. E, depois desse processo, qualquer pai moderno encontra a primeira prova olímpica da sua vida: o lançamento de arroto. Desconhecia a modalidade, mas explico aos iniciados: consiste em colocar o bebê em posição vertical e esperar, com uma atenção psicótica, que ele simplesmente arrote depois do repasto. Confesso dificuldades no processo: entre vários ruídos guturais, como distinguir o som claro, vibrante, inconfundível de um arroto? Há discussões conjugais a respeito. ‘Ele já arrotou?’, pergunta a mãe. ‘Não tenho a certeza’, responde o pai. E ficamos os dois à espera de Godot. Quando ele milagrosamente aparece, há uma alegria lavada em lágrimas. Quem diria que o ser humano, no fundo, precisa de tão pouco para ser feliz?”
Trecho de Pai aos 40, artigo de João Pereira Coutinho
Publicado quarta-feira, 5 de agosto de 2015 às 8:27 pm e categorizado como Blog. Você pode deixar um comentário, ou fazer um trackback a partir do seu site.