– Sempre imaginei que me casaria e teria filhos. Mas estou à beira dos 50 e não aconteceu nem uma coisa, nem outra.
– Você se sente mal por causa disso?
– Na maioria das vezes, não. Me sinto livre, leve e solta. É muito bom mandar no próprio nariz. Além do mais, sei que não conseguiria educar uma criança. Me faltam a generosidade e a energia necessárias. Mesmo assim, em certas ocasiões, rola uma cobrança. Um grilo falante toma as rédeas dos meus pensamentos e me azucrina com aquelas perguntas clichês: “Vai passar a vida girando apenas em torno de si? Quem cuidará de você na velhice? Mulheres que não conheceram a maternidade morrerão incompletas”.
– E você, como reage?
– Penso rapidinho em minha analista: “Trate logo de espantar as caraminholas, madame! Não passam de intrigas daquela que você imaginava ser. Ela está com inveja de quem você realmente é”.
Como um grupo de moças reage às cantadas nas ruas do México:
“Fortaleza? Está tão violenta que você é assaltado até no Google Street View!”
Na avenida Paulista, um mendigo interrompe minha caminhada e pede sem rodeios:
– Me vê dois reais? Preciso inteirar o dinheiro da cerveja.
– Cerveja?
– Cerveja! Ou o senhor acha que morador de rua não tem direito à curtição?
“Há quem goste de se ver no espelho e há quem goste de ver pela janela. Eu gosto da janela.”
Temo você
como a noite teme o fogo
o fogo teme a chuva
e a chuva teme o azul
no céu.
Temo você
como o azul teme a fumaça
a fumaça teme o vento
e o vento teme a montanha
em contragolpe.
Temo você
como a montanha teme o túnel
o túnel teme a chegada
e a chegada teme o adeus
na partida.
Temo você
porque temo o que
em você
me tira de mim.
“Um verso preso é um tiro
Que a arma não disparou
Pois o gatilho emperrou
E o tambor não deu giro
Se escuta só o suspiro
De alguém que escapa assombrado
E o atirador, frustrado
Remói a raiva no dente
Sentindo o mesmo que sente
Alguém que foi baleado”
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