“pegue uma frase qualquer, extraída de um ensaio filosófico. digamos, essa: ‘a capacidade de receber representações dos objetos segundo a maneira como eles nos afetam, denomina-se sensibilidade’, de kant. em seguida, inicie um processo lento de carícia semântica. acaricie as palavras ‘capacidade’, ‘receber’ e ‘representações’, fazendo movimentos circulares com os dedos polegar e indicador sobre cada uma delas, de modo a amaciá-las até que elas fiquem tenras. reserve. depois de cerca de cinco minutos, você verá que elas terão se transformado em ‘girassóis amarelos’ ou ainda ‘gravata florida’. passe agora para as palavras restantes: ‘objetos’, ‘maneira’, ‘afetam’ e ‘sensibilidade’. dessa vez, aperte suavemente as consoantes, girando os dedos na horizontal e na vertical, até que você sinta cederem a resistência e a rigidez, dando lugar a um relaxamento total, quando então as palavras passam a topar qualquer parada, até virarem, praticamente, literatura. vá dormir. quando você acordar, surpresa: encontrará palavras calmas, descansadas, dizendo coisas desse tipo: ‘a pintura de girassóis amarelos me faz um bem danado’ ou ‘aquela música do jorge benjor, caceta!'”
Da escritora Noemi Jaffe
Publicado
sexta-feira, 27 de maio de 2016 às 4:21 pm e categorizado como Blog.
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Como transformar pedra em pluma?
“pegue uma frase qualquer, extraída de um ensaio filosófico. digamos, essa: ‘a capacidade de receber representações dos objetos segundo a maneira como eles nos afetam, denomina-se sensibilidade’, de kant. em seguida, inicie um processo lento de carícia semântica. acaricie as palavras ‘capacidade’, ‘receber’ e ‘representações’, fazendo movimentos circulares com os dedos polegar e indicador sobre cada uma delas, de modo a amaciá-las até que elas fiquem tenras. reserve. depois de cerca de cinco minutos, você verá que elas terão se transformado em ‘girassóis amarelos’ ou ainda ‘gravata florida’. passe agora para as palavras restantes: ‘objetos’, ‘maneira’, ‘afetam’ e ‘sensibilidade’. dessa vez, aperte suavemente as consoantes, girando os dedos na horizontal e na vertical, até que você sinta cederem a resistência e a rigidez, dando lugar a um relaxamento total, quando então as palavras passam a topar qualquer parada, até virarem, praticamente, literatura. vá dormir. quando você acordar, surpresa: encontrará palavras calmas, descansadas, dizendo coisas desse tipo: ‘a pintura de girassóis amarelos me faz um bem danado’ ou ‘aquela música do jorge benjor, caceta!'”
Da escritora Noemi Jaffe
Publicado sexta-feira, 27 de maio de 2016 às 4:21 pm e categorizado como Blog. Você pode deixar um comentário, ou fazer um trackback a partir do seu site.