Somos um instante.
“Um – Posso colocar meu coração a seus pés?
Dois – Se não me sujar o chão.
Um – Meu coração é puro.
Dois – Veremos.
Um – Eu não consigo tirá-lo!
Dois – Quer ajuda?
Um – Se não for incomodar.
Dois – É um prazer! Mas também não consigo tirá-lo…
Um – (Chora)
Dois – Vou fazer uma cirurgia e tirá-lo já. Para que tenho um canivete, afinal? Vamos dar um jeito. O negócio é trabalhar e não se desesperar. Pronto – aqui está! Só que isso é um tijolo… Seu coração é um tijolo!
Um – Mas ele bate por você.”
“O desgaste do processo político tornou-se um fenômeno de alcance mundial. Mas cada país o vive de acordo com sua trajetória histórica. No Brasil, estamos sustentando um sistema apodrecido. Não é exato dizer que as pessoas que se afastam dele sejam alienadas. Se entendemos alienação como distância da realidade, é o sistema que se alienou, encastelando-se no próprio atraso, enquanto a sociedade avançava na aspereza cotidiana.
Quando examinamos simulações de segundo turno em alguns lugares, as coisas ficam muito claras. O índice de voto nulo é impressionante. Nem um nem outro. Esse nem um nem outro é uma espécie de mantra que ronda o sistema político brasileiro. Quase ninguém se sente representado.
Os movimentos moralizadores no Brasil, desde o tenentismo e algumas variáveis de esquerda, deram com os burros n’água. É uma ilusão, creio eu, pensar que apenas a entrada de pessoas honestas vai purificar o sistema. Desde Shakespeare, as pessoas são essencialmente as mesmas, com suas grandezas e misérias. Transparência, mecanismos de controle, redução de partidos, fim de foro privilegiado, mudanças no sistema — tudo isso aponta para um caminho promissor de mudanças. No mundo de hoje, é quase impossível salvar a política da mediocridade. Salvá-la do banditismo, entretanto, ainda é uma tarefa possível e necessária.”
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