Uma carta para o nadador Gabriel Araújo, que ganhou três medalhas em sua primeira paralimpíada, a de Tóquio
DANIEL DIAS, em depoimento a Armando Antenore
Gabrielzinho,
Como vai? Embora não sejamos muito próximos, me sinto à vontade para chamá-lo assim, pelo diminutivo carinhoso que o acompanha desde criança. Espero que você não se importe. Logo que nos conhecemos, há dois anos, em Lima, durante os Jogos Parapan-Americanos, notei certa semelhança entre nós. Não me refiro apenas às nossas deficiências motoras. Você sofre de focomelia, doença congênita que impede o desenvolvimento normal dos membros superiores e inferiores. Eu tenho má-formação nos braços, na perna direita e no pé esquerdo. Também não estou falando propriamente de nosso apego à natação, o esporte que já nos deu tantas alegrias e nos possibilita rodar o mundo. Penso, acima de tudo, nas características menos notórias que nos unem. Por exemplo: você reparou que nossos pais nos batizaram com nomes de anjo e de profeta? Gabriel e Daniel, uma rima celestial que serviria perfeitamente para qualquer dupla sertaneja! Você é mineiro até a medula – nasceu em Santa Luzia, cresceu em Corinto e se radicou em Juiz de Fora. Eu sou paulista de Campinas, mas me criei numa cidadezinha de Minas, Camanducaia. Por isso, me considero um pouco mineiro também. Você parece tocar a vida com leveza. Esbanja carisma e dança de um jeito engraçado quando vence provas importantes. Eu me julgo igualmente extrovertido e procuro manter o alto-astral mesmo diante dos piores desafios.