“No Japão, a criminalidade é baixíssima. Por exemplo: você esquece um laptop dentro do metrô, em Tóquio. Sabe o que acontece? Quando você retorna para procurá-lo, não só o encontra como descobre que instalaram o Windows nele.”
“No Japão, a criminalidade é baixíssima. Por exemplo: você esquece um laptop dentro do metrô, em Tóquio. Sabe o que acontece? Quando você retorna para procurá-lo, não só o encontra como descobre que instalaram o Windows nele.”
“Era uma noite linda em São Luís, no Maranhão, onde (…) se reuniram cerca de 200 profissionais de casamentos e algo como 30 noivas. (…) Aí uma cerimonialista perguntou o que eu achava da moda de soltar borboletas na igreja ao final da celebração. Ora, já ouvi falar dessa coisa bem brega (e ecologicamente criminosa), mas achava que era um caso isolado de uma noiva muito sem noção. Engano meu: a moda continua – e com requintes de crueldade!
Embatuquei na pergunta: disse que achava de péssimo gosto e pedi detalhes do procedimento. E ouvi de várias – não apenas de uma, mas de vááárias profissionais – os seguintes relatos: as borboletas chegam de Salvador em caixas furadas para ventilar, mas pequenas para que não se mexam muito. No aperto, se estressam e muitas morrem. Ainda: como não é uma coisa baratinha, as noivas exigem que sejam contadas e, para isso, é preciso abrir as caixas. Para que não voem, as borboletas são colocadas por um certo tempo na geladeira. Desse modo, ‘desmaiam’ e podem ser contadas…
Tá achando horrível?? Pois piora: na hora de soltá-las, como estão entre desmaiadas e mortas, é preciso acordá-las em instantes, para não perder o timing da música da saída da noiva. As cerimonialistas são obrigadas, portanto, a bater nas caixas, e as borboletas se assustam e, aí quando abrem a tampa, voam. (…)
Alguém acha que esse tipo de tortura condiz com a solenidade do momento? Será possível que ninguém – entre a cerimonialista, o decorador, o padre e a família dos noivos – consiga incutir um mínimo de compaixão (já que o mau gosto impera) nesses coraçõezinhos apaixonados das noivas, que não hesitam em destruir em segundos uma das mais delicadas belezas que a natureza criou?”
“Agora, o governador de São Paulo reclama que as ocupações dos colégios são políticas. Claro que são. O que mais poderiam ser? São um ato político. Qual o problema disso? É proibido agir politicamente? Também o governador é político e age como tal. Também a proposta de reforma do ensino que faz é política. O que mais poderia ser? Pode ele imaginar, a sério, que um remanejamento de alunos dessa ordem, que o fechamento de um número considerável de colégios seja outra coisa que não um ato político? Se não é, seria o quê, então, um ato de natureza divina? Seria algo da ordem da natureza? Seria uma ‘decisão técnica’? A escola pública no Brasil é algo complexo: faz um bom tempo que se tornou mais que tudo um depósito para pobres. Eles não precisam aprender, é até melhor que não aprendam muito. O importante é que as escolas existam formalmente. É essa concepção (política) que leva Alckmin (ou seu secretário, tanto faz) a meter a mão na escola pública sem nenhuma delicadeza. Não discuto o mérito da reforma proposta. Não entendo disso. Mas entendo a desconfiança dos jovens muito bem.”
Os Estados Unidos celebraram ontem o Dia de Ação de Graças. Como inúmeros filmes já nos mostraram, trata-se de um feriado em que os norte-americanos agradecem pelos bons acontecimentos do ano na presença de amigos e familiares. A confraternização geralmente se dá à mesa e o peru faz as vezes de prato principal. Só em 2015, estima-se que 46 milhões de aves morreram para honrar a tradição. Num único dia e num único país, 46 milhões de aves… Reflita um instante sobre o quão gigantesco é o número. Pense também no quanto a matança deverá crescer se considerarmos a infinidade de perus – e de frangos, bois, peixes, cordeiros, porcos – que o mundo irá abocanhar durante o Natal e o Réveillon. Procure tornar a cifra bem palpável. Uma ajuda: a Espanha abriga hoje 46 milhões de habitantes. Em questão de horas, portanto, o Thanksgiving Day devora uma Espanha inteira. “Que comparação idiota!”, reclamarão muitos. “São apenas perus, não espanhóis.” Sem dúvida, apenas perus… Mas por que valeriam tão menos que espanhóis – ou holandeses, canadenses, indianos, paraguaios, brasileiros? Por que não gozam da compaixão e das imunidades com que blindamos cães, gatos e outros animais de estimação? O que define a importância de cada ser vivo? Que pré-requisitos garantem às criaturas o direito de ter proteção: o fato de sentirem dor e medo? De ansiarem desde o nascimento por liberdade? De zelarem pelas crias? De se afeiçoarem à própria existência? Segundo tais critérios, que me parecem nobilíssimos, não há nenhuma diferença entre nós, humanos, e os bichos que costumamos matar. Então por que ainda julgamos moralmente defensável apreciá-los mortos em almoços e jantares que pretendem festejar a vida?
“Não se curem além da conta. Gente curada demais é gente chata.”
“No império do jovem [em que vivemos], por incrível que pareça, os idosos estão começando a receber agrados, gentilezas, certos privilégios das relações interpessoais. As famílias deixam os idosos sentarem na frente no carro. O idoso, quando não atrapalha, quando não é chato, quando não é repetitivo, goza de simpatia (…).
O velho tem mais tempo para jornal e revistas. O velho novidadeiro tem tempo para pescar novidades, é visto como um cara divertido. E se ele assim for, nem importa que seu caminhar seja mais lento e que para entrar e sair de veículos emita alguns ‘ai-ai-ais’. Como é que nós vamos achar uma explicação para isso, neste mundo tão preconceituoso com as rugas e as dores tão próprias da ‘melhor idade’?
Tenho uma hipótese, que quase acho ser uma tese: a vida profissional e afetiva hoje em dia está tão competitiva, tão difícil e estressante que os maduros, isto é, os adultos jovens, não podem se permitir sorriso, simpatia, contato suave e despretensioso. Já o velho não tem que competir na raia da corrida pela vida glamourosa. Ele já é tudo o que podia vir a ser. Não sendo doente, o idoso vive num espaço relaxado. É livre para curtir o aqui/agora. Os indivíduos que estão no centro do universo da inclemente vida pública têm que ser eternamente desconfiados, atentos, sempre à busca de eficiência.
O idoso no aeroporto, no parque, na praia, de manhã pelas ruas, depara-se com um mundo de sorrisos. Se ele sorrir, ele receberá uma acolhida afetiva. Naturalmente isso não vale para a mãe carente que telefona com frequência. Ou o pai, tio ou avô que atrapalha com suas perguntas, queixas. O bem querer do idoso tem a ver com ajudar sem atrapalhar. Tem a ver com o sorriso. (…) Os sorrisos que acolhem são uma libertação dos jovens e adultos, que se sentem livres para olhar sem ver competição.”
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